sexta-feira, 25 de setembro de 2009

mais 7 mil !

A câmara dos deputados aprovou emenda constitucional que cria 7.709 vagas para vereadores em todo o país. Mas será que os municípios precisam disso? Impressionante! A briga entre parlamentares agora é pra que as contratações sejam imediatas e não apenas nas eleições de 2012. Por que tanta pressa? As vagas serão preenchidas por aqueles que hoje são suplentes de vereadores, que segundo as notícias, fizeram uma pressão forte nas galerias da câmara. Será que isso tem alguma relação com as eleições do ano que vem?

Leia mais aqui, aqui e aqui.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

22 de setembro é o dia mundial sem carro

Mas como? Apesar de ser totalmente a favor, vejo que as ações do governo deveriam ser exatamente nesse sentido, de privilegiar o pedestre e criar condições para que o usuário das cidades prefira ser pedestre a utilizar transportes motorizados. Se optar por eles, que escolha os coletivos.

Mas não é o que se vê nas cidades brasileiras. Não é o que se vê nas grandes cidades brasileiras. Ao contrário, o que se observa é justamente a opção pelo automóvel. Quando o governo de São Paulo inicia obras de ampliação das marginais do rio Tietê, compreende-se que a maior cidade da América Latina quer mais carros.

Em Campinas, o dia mundial sem carro foi marcado por congestionamentos mais extensos e demorados do que em dias normais. Não vi a administração municipal aderir formalmente ao movimento nem incentivar seus habitantes a aderirem. Nenhuma surpresa.

A cidade deveria ter um projeto que incentivasse os habitantes a serem pedestres. Tal projeto deveria pensar em 3 pontos primordiais: na organização de uma rede de transportes, coletivos e públicos, eficiente que não dependesse apenas de ônibus, na implantação de uma rede de ciclovias por toda a malha urbana e na construção e recuperação das calçadas da cidade. Tendo esse projeto, a cidade poderia incentivar seus habitantes a deixarem o carro em casa.

Infelizmente, as calçadas em Campinas são precárias, repletas de obstáculos que vão de postes de iluminação, placas de sinalização, cestos de lixo, telefones públicos, semáforos, desníveis de toda ordem. Além disso, o calcamento utilizado é inadequado [as pedras portuguesas são lindas, mas se soltam com facilidade] e exige manutenção constante. Fora as calcadas, há apenas uma ciclovia na cidade [na verdade uma ciclofaixa no asfalto compartilhada com os automóveis] em torno do Parque Taquaral. E por fim o transporte coletivo não chega perto de oferecer aos usuários o mínimo de qualidade.

É preciso fazer alguma coisa pra que Campinas não se transforme numa segunda São Paulo. Pelo que se vê nas ruas da cidade, isso não vai demorar muito a acontecer. No dia mundial sem carro, o trânsito de Campinas parou por excesso de veículos. Quem sabe um dia a situação melhora, mas não tenho esperanças de ver qualquer mudança de perto.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

apropriação do espaço público

O Brasil teria um espaço engraçado se não fosse trágico. Um traço da nossa personalidade, do brasileiro, é ver graça em tudo, não ver mal em nada. Na verdade, estamos tão acostumados a ver coisas erradas por aí que nem nos damos conta de que de fato a coisa está errada quando nos deparamos com ela. Por outro lado, achamos que quem reclama é chato, está de mal com a vida, é ruim do fígado. Eu sou daqueles que enxerga coisa errada de longe e não vê mal nenhum em reclamar, pelo contrário. Senso crítico e autocrítica são coisas que não me faltam.

Outro aspecto da personalidade do brasileiro é considerar que o que é público não lhe pertence. Se é público, não é de ninguém. Se não é de ninguém e muito menos meu, não tenho responsabilidade nenhuma sobre aquilo. Por isso vemos tanto lixo na rua, tanto vandalismo por todas as nossas cidades. A face mais escura dessa particularidade é justamente o seu oposto: se o que é público não é de ninguém, quem chegar primeiro leva. Como não podia deixar de ser, essa postura se reflete na política brasileira já que a política é uma das formas pela qual nossa cultura se manifesta.

Essa é também, de certo modo, a história da ocupação do nosso território. Quem chegava primeiro tomava posse, se proclamava dono. Isso é bastante visível em nosso litoral, principalmente o litoral norte paulista, em que condomínios ocupam áreas de proteção ambiental, áreas que deveriam ser de todos e acabaram exclusivas para alguns poucos.
Passo todos os dias na rua Ary Barroso, em Campinas. Essa rua mereceria um estudo mais aprofundado, tão grandes são os absurdos existentes ali. A rua margeia uma área do que deveria ser o parque linear do, senão me engano, ribeirão tanquinho [por favor me corrijam se estiver errado]. A área que deveria ser um parque vai, lentamente, sendo ocupada para usos privados. Só pra mostrar dois exemplos. Uma barraca de comida, que segundo o ‘proprietário’, já está ali a sete anos. E um estacionamento de uma imobiliária que se mudou para o outro lado da rua recentemente.
Ora, se o poder público e as autoridades, representantes dos eleitores, não tomam conta do espaço público, não zelam por ele, não valorizam o que é de todos, o que acontece? Acaba sendo de ninguém, não tem dono e sendo assim, quem chegar primeiro leva. Esses são apenas alguns exemplos. Muitos outros poderiam ser dados, a cidade está repleta de casos, talvez até mais aberrantes.

Agora, será que ninguém vê isso? Será que ninguém enxerga o absurdo? Não precisa não, eu mesmo respondo: não, ninguém vê! A verdade é que ninguém vê mal nisso...

sábado, 5 de setembro de 2009

carta do leitor

Enviei para o Correio Popular, jornal de Campinas, e foi publicado hoje. Cortaram a ultima frase, nao sei porque:

A tendência de forte urbanização atravessou séculos, em especial o século XX determinando o franco crescimento das cidades, transformadas em palco dos grandes acontecimentos da humanidade. A CPFL é agente importante no meio ambiente urbano. Deveria assumir o papel de parceira da cidade realizando um projeto de requalificação e revitalização urbana que transferisse a rede de energia, aérea, para galerias subterrâneas. Se a empresa construiu um belo projeto que trata da cultura contemporânea através do Café Filosófico, poderia incluir as cidades em que atua no rol dos temas que trata como cultura. Os cidadãos e as árvores agradeceriam. Que o Café Filosófico se estenda por toda a cidade, para todos.

[leia aqui]

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ted Kennedy

Quando o presidente John Kennedy foi assassinado, eu tinha 10 dias de vida. Minha mãe me dava o peito e ficou transtornada com a notícia na televisão. Kennedy marcou uma geração pelo mundo. Sua mulher foi admirada por todas as mulheres mundo afora. Cresci ouvindo falar de Kennedy e sua família. Impressionante o poder dessa família nos EUA, impressionante o eco desse poder pelo mundo.

Há alguns dias atrás, ao ver no noticiário que o senador democrata Ted Kennedy, sofrendo de um câncer no cérebro, procurava antecipar sua substituição no senado para que os democratas não perdessem um voto para o projeto de reforma no sistema de saúde dos EUA, comentei com Bia: ‘Mas que atitude do senador, interessado em defender uma causa que beneficie a todos, mesmo não estando lá, presencialmente, para defendê-la. O homem pensa num projeto, na comunidade, no país, desinteressadamente. É admirável! Será que veremos algo assim no nosso senado algum dia?’ E terminei, dizendo: ‘O senador não vai durar muito, deve estar em seus últimos dias, deve saber que não chegará vivo à votação do projeto da saúde’.

No dia seguinte, ou dois dias depois, vejo a notícia de sua morte. Apesar dos erros na juventude, Ted Kennedy se transformou num grande homem, que defendeu causas visando o bem estar da população americana. Os quatro temas pelos quais mais lutou foram saúde, educação, trabalho e as necessidades especiais e seus portadores. Foi um dos pilares da campanha de Obama nas últimas eleições. Trabalhou pela paz na Irlanda. Teve um funeral de chefe de estado. Os discursos em sua homenagem foram emocionantes, especialmente os dos dois filhos.

Entretanto, acima de tudo, foi um homem que defendeu valores, que estabeleceu um comportamento ético sem parâmetros para nossos senadores e políticos no Brasil. Eu fiquei admirado e triste. Admirado com a grandeza de um homem político. Triste porque não temos entre nós, no Brasil, um homem desse calado.

Fica a frase do senador Ted Kennedy como lição:

“Para todos aqueles pelos quais nos preocupamos, o trabalho continua, a causa permanece, a esperança está viva e o sonho não deve morrer.”

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

incentivo ao esporte

Agora, a Receita Federal apóia o esporte nacional, mais especificamente, o tênis brasileiro. O beneficiado direto, Ricardo Mello. Claro que é piada.

Mas o que aconteceu com o tenista em sua chegada a São Paulo, no aeroporto de Cumbica, vindo dos EUA, onde disputou o US Open não é. Mello ficou retido na alfândega durante 5 horas por que trazia consigo material cedido por sua patrocinadora, a francesa Babolat: dez raquetes, além de pares de tênis, uniformes, cordas e outros acessórios. O material faz parte do pacote de patrocínio recebido pelo jogador.

Os fiscais da Receita alegaram que o material excedia a cota permitida do imposto de importação de produtos vindos dos EUA e que não havia sido declarado. De nada adiantou Mello mostrar seu contrato com a Babolat e comprovantes de que participara do US Open. De nada adiantou alegar que se tratava de material de trabalho que não se destinava a comercialização.

Mello foi liberado depois de pagar R$2260,00 em tributos pelo excesso e multa de aproximadamente R$ 940,00 por não ter declarado os itens, cerca de R$ 3200,00 no total.

Além do apoio da Receita, Mello recebeu apoio do fiscal que o autuou. Segundo o tenista, o fiscal disse que se algum dia assistir a uma partida do brasileiro, vai torcer contra! Isso é tudo que o Brasil precisa. É esse tipo de apoio que deve ser dado à todos os esporte. Que beleza! Era o que Mello precisava!

Mello é hoje o número 5 no Brasil, 187 na ATP. É pra chorar ou pra rir?

Leia as notícias:
http://esporte.uol.com.br/tenis/ultimas/2009/09/01/ult4364u4454.jhtm
http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/esportes/conteudo.phtml?tl=1&id=920568&tit=Tenista-brasileiro-e-taxado-apos-5-horas-na-alfandega
http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,ricardo-mello-fica-retido-na-alfandega-por-cinco-horas,428075,0.htm

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Rogerio Ceni

A Portuguesa de Desportos, a Lusa, é segundo time de todo paulistano. No ultimo jogo em seu estádio, aconteceu uma das cenas mais bizarras dos últimos tempos no esporte nacional. Ao final do jogo, após da derrota do time da casa, a torcida ameaçou jogadores e os agrediu verbalmente. Pior de tudo, dois conselheiros do clube entraram armados, acompanhados de dois seguranças, nos vestiários do time e ameaçaram jogadores e comissão técnica. Ou talvez tenham sido dois conselheiros acompanhados de dois seguranças armados. Não importa quem entrou armado. O incrível é como pessoas armadas entram no vestiário de um clube portando armas? O que pretendiam fazer?

Rogério Ceni é um grande goleiro. Demonstra, também, ser um homem íntegro. Sobre o episódio, disse:

“Achei lamentável e absurdo o que aconteceu na Portuguesa. Não entendo porque as pessoas não vão ao senado reclamar da mesma maneira. Se tivéssemos a mesma bravura para combater os políticos corruptos, talvez o nosso país fosse melhor. Existe uma inversão de valores na sociedade. A população não se revolta com que mexe no dinheiro, no bolso dela, mas sim contra um time que não ganhou em casa”.

Não preciso dizer mais nada.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

a resposta sobre o crime

Enviei email para 4 departamentos da CPFL com o mesmo conteúdo do post feito aqui: para o departamento de ética, para a ouvidoria, para o meio ambiente e para o atendimento ao cliente. Recebi uma resposta por email do atendimento ao cliente [segue abaixo] e um telefonema da ouvidoria, do Sr. Caio.

Os dois falaram de podas, como se fosse esse o problema. O Sr. Caio quis saber o endereço daquela árvore mutilada. Fiquei com medo de fornecer a ele e a árvore desaparecer. Alguém duvida dessa possibilidade?

Passeando pelo site da empresa, fica claro que os programas de cultura, ética e sustentabilidade são feitos apenas para sustentar os próprios objetivos da empresa. São feitos, como se diz, pra inglês ver, pra justificar suas ações e mascarar os despropósitos que comete.

Cada um entende o que quer do que lê, enxerga o que quer, escuta o que quer. Meu post foi bem claro, não é sobre podas. É sobre a atitude da empresa em relação ao meio ambiente urbano. É um apelo para que a empresa assuma sua responsabilidade e encampe um projeto de revitalização urbana que retire a rede aérea da cidade. Volto a dizer, a cidade é toda cultura! Toda a possibilidade de cultura está na cidade. Que o café filosófico seja para todos e se estenda por toda a cidade!

. . .

Sr. Octavio, boa tarde.

Em atenção ao seu e-mail informamos que a CPFL realiza serviços de poda programada, visando manter os condutores de energia livres dos galhos e ramos de árvores que ofereçam risco potencial à rede de distribuição aérea e sem causar danos irreparáveis à vegetação.

Quando há possibilidade de efetuar uma poda programada, é escolhida uma época anterior à renovação da folhagem, a fim de minimizar o desgaste causado nas árvores, além de evitar brotação excessiva. Por esse motivo, o serviço de poda pode ser adiado, obedecendo sempre a urgência da situação.

Ressaltamos que em nosso site há mais informações sobre sustentabilidade e os programas que a empresa exerce, segue o link para facilitar: http://www.cpfl.com.br/Default.aspx?alias=www.cpfl.com.br/sustentabilidade

Agradecemos seu contato.

Rodrigo Augusto
Atendimento ao cliente

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

crime ambiental

[nao eh possivel que facam isso com uma arvore apenas pra passar fios eletricos. Essa imagem ve-se por toda a cidade]
Talvez seja um exagero falar de crime ambiental. Talvez eu seja muito radical. Talvez. Mas que as podas urbanas em Campinas são muito agressivas, isso não há como negar, basta ver as imagens. Tudo bem, o crime começa com o plantio de árvores inadequadas para o ambiente urbano, com porte incompatível com as dimensões da ruas. Seria necessário saber quem plantou tantos ipês e alecrins pelas ruas da cidade.

Contudo, acho que essa prática pode ter uma outra perspectiva. As podas são feitas para garantir a integridade da rede elétrica da cidade e estão a cargo, até onde sei, da concessionária de energia elétrica, a CPFL. A CPFL é uma grande empresa e seus balanços demonstram um desempenho econômico-financeiro excepcional. O lucro da empresa é de alguns milhões de reais por ano. A empresa é mais conhecida pelos programas culturais que financia a que chama de CPFL Cultura, notadamente o Café Filosófico, que trata de temas que agitam a cultura contemporânea. Foi eleita em 2008 a melhor empresa de distribuição de energia do país.
Várias iniciativas que o politicamente correto chama de responsáveis, fazem da empresa um modelo de gestão que persegue a sustentabilidade. Sustentabilidade é o conceito do momento, o modo de pensar e agir, o patamar a se atingir. Pois acho que a CPFL só transformará seu negócio em negócio sustentável quando assumir a responsabilidade pelo espaço físico em que atua, o espaço que utiliza para apoiar os meios pelos quais entrega seus serviços à população. Lembre-se, o serviço é uma concessão pública, a CPFL não faz favor nenhum a cidade. Em outras palavras, a CPFL deve ser responsável pelo espaço em que passam os postes e fios elétricos no ambiente urbano.

Não é mais possível que os fios e cabos elétricos nas cidades sejam aéreos. A rede elétrica, postes e fios, não só poluem visualmente, como constituem barreiras físicas. Os postes que os sustentam ocupam espaços de circulação preciosos. Além disso, a arborização sofre podas degradantes para que os fios possam passar.

É imprescindível que a CPFL promova a requalificação dos espaços urbanos na cidade. É urgente que a empresa encabece um projeto junto ao poder público municipal, além de buscar outros parceiros, para realizar a tarefa de transformar e modernizar a cidade. Não sei que projeto daria mais visibilidade, mais credibilidade na área cultural do que esse. Afinal, a cidade é o grande palco das manifestações culturais. Recursos e competência a empresa tem de sobra, já provou isso com suas iniciativas culturais. Que o Café Filosófico se estenda por toda a cidade, para todos.

[sera que isso tem um nome tecnico? Soh posso pensar em gato profissional]

mc dia feliz – só big mac

Se você quer ajudar crianças e adolescentes que tem câncer, o McDonald’s promove o McDia Feliz. Todo o dinheiro da venda de Big Mac é destinado a causa do câncer infantil.

Mas atenção: apenas o dinheiro da venda de Big Mac vai para a campanha. Não adianta pedir o número 1.

Dia 29 de agosto, sábado. Só Big Mac, Big Mac, Big Mac.

Se você quer ajudar, compre um Big Mac, o único que ajuda de fato as crianças com câncer.

desaparecido

Thiago Tomás Nitoli está desaparecido desde 8 de agosto.

Mais informações sobre o caso em http://equilibrio-eu.blogspot.com/ .

Toda e qualquer ajuda será bem vinda.

A familia agradece. Obrigado.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

lições americanas

Acabo de reler, há poucos dias atrás, 'Seis propostas para o próximo milênio' [Companhia da Letras, 1990], de Italo Calvino. Esse é, na verdade, o subtítulo do original, que tem como título o mesmo desse post. A tradução da Companhia das Letras não usou o título, apenas o subtítulo. Comecei a ler os livros de Calvino por influencia de um professor que foi, antes de tudo, um grande amigo. Nunca mais o vi depois que saí da faculdade. Soube a um tempo atrás que o Cininho [diminutivo de Alcino] andava lá pelas bandas de Brotas.

O primeiro livro de Calvino que li foi 'As cidades invisíveis'. Depois li as Seis propostas e então não parei mais. Os meus preferidos são ‘Os amores difíceis’ [que inclui ‘A nuvem de Smog’ e ‘A formiga Argentina’, finalmente lembrei onde tinha lido esse conto em português], ‘Marcovaldo’ e ‘Palomar’ [todos pela Cia das Letras]. Agora estou relendo ‘Palomar’ e os outros livros já estão na minha mesa de cabeceira.

As lições foram escritas para serem proferidas como palestras na Universidade de Harvard no ano letivo 1985-86. Seriam palestras sobre valores que Calvino considerava importantes para a literatura e que ele achava iriam marcar as letras do próximo milênio [esse milênio em que vivemos]. Segundo Esther, sua mulher, Calvino tinha idéias para mais duas lições além das seis e a oitava teria o título ‘Sobre o começo e o fim’. Calvino não chegou a escrevê-la, assim como não escreveu a sexta lição, Consistência. As outras 5 lições são: Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade e Multiplicidade. Se havia a idéia para 8 lições, qual seria a sétima?

Das 5, a que mais me toca é exatidão. O motivo é justamente, segundo explica Calvino, o oposto de exatidão que ajuda a definir o conceito: vago, indefinido. Outro motivo, talvez, que me faça gostar mais da lição sobre exatidão seja o fato de que Calvino fale algumas coisas com as quais me identifico muito. Transcrevo uma passagem:

‘Creio que meu primeiro impulso decorra de uma hipersensibilidade ou alergia pessoal: a linguagem me parece sempre usada de modo aproximativo, casual, descuidado e isso me causa intolerável repúdio. Que não vejam nessa reação minha um sinal de intolerância para com o próximo: sinto um repúdio ainda maior quando me ouço a mim mesmo. Por isso procuro falar o mínimo possível e se prefiro escrever é que, escrevendo, posso emendar cada frase tantas vezes quanto ache necessário para chegar, não digo a me sentir satisfeito com minhas palavras, mas pelo menos para eliminar as razões de insatisfação de que me posso dar conta. A literatura – quero dizer, aquela que responde a essas exigências – é a Terra Prometida em que a linguagem se torna aquilo que na verdade deveria ser.’ [p.72]

Eu também acho que a linguagem é bastante maltratada e, por isso, não gosto de falar muito, prefiro economizar porque sei que maltrato a língua, por preguiça, vício, desleixo. Assim, também prefiro escrever. Sei que no papel posso ir e vir, ler e rever, num esforço contínuo pela busca da forma mais adequada ou mais bem-tratada. E olha que fui professor e vivi de falar o que pensava por muitos anos. E não era um mau professor. Quando escrevo, sou mais claro, mesmo sendo vago. Mas não chego aos pés de Calvino, seria muita pretensão. Em Calvino, a linguagem é aquilo que deveria ser.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

compaixão

[Kenny MacAskill]

Numa dessas raras coincidências, assisti ao vivo, hoje pela manhã, na BBC, o discurso do secretário de justiça da Escócia, Kenny MacAskill, que tratava de libertar um terrorista, com doença terminal, para morrer em seu país, com sua família, em sua casa. Trata-se de Abdelbaset Ali Mohamed al-Megrahi, líbio, julgado e considerado culpado, preso desde 2001, pelo atentado a bomba ao vôo 103 da Pan Am em 1988 que tirou a vida de 270 pessoas. Megrahi, que tem câncer terminal na próstata, foi libertado por compaixão.

Segundo o governo Escocês, a decisão foi bastante ponderada antes de ser tomada e anunciada. Decisão bastante singular que, sem dúvida, causará muita polêmica. O discurso do secretário, Kenny MacAskill, teve um tom grave sendo, porém, uma lição de humanismo. Transcrevo aqui alguns trechos, traduzidos por mim:

‘O Sr. al-Megrahi não demonstrou nenhuma piedade nem compaixão por suas vítimas. Elas não puderam retornar ao sei de suas famílias para zelar por suas vidas, para viver seus últimos dias em paz. Nenhuma compaixão foi demonstrada por ele para com elas.
[…]
Mas isso apenas não é razão para que nós neguemos compaixão a ele e sua família em seus últimos dias.
[…] Nosso sistema de justiça requer que se imponha o julgamento mas que se possa recorrer à compaixão.
[…]
Por essas razões e apenas por essas razões é minha decisão que o Sr. Abdelbaset Ali Mohamed al-Megrahi, condenado em 2001 pelo atentado em Lockerbie, agora doente terminal de câncer prostático, seja libertado por compaixão e possa retornar a Líbia para morrer.
[…]
Compaixão e perdão são suportes das crenças pelas quais procuramos viver, permanecendo como verdade para nossos valores como povo, independente da severidade da provocação ou da atrocidade perpetrada.’

terça-feira, 18 de agosto de 2009

a girl and a gun



É o titulo do filme do brasileiro J.P. Miranda Maria, vencedor na competição promovida pela CNN: Mobile phone movie competition, dentro do programa Screening room. A idéia é ótima. Como fazer um filme curto com os parcos recursos de um telefone celular. Essa proposta da obra estética feita com o que se tem na mão sempre me agradou muito.

veja trechos dos outros filmes vencedores:


Para saber mais sobre a competição, siga o link
http://edition.cnn.com/video/#/video/international/2009/08/05/tsr.xtra.mobile.comp.bk.a.cnn

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

marina silva

Ela vem despontando como possível candidata a presidência da república nas próximas eleições em 2010. Não se lançou oficialmente como tal, nega que seja candidata, mas está ensaiando uma saída do PT rumo ao PV, que possibilitaria sua candidatura.

Marina Silva é senadora, foi ministra do meio ambiente do governo Lula. Brigou com setores da economia que defendem o desenvolvimento a qualquer custo sem levar em conta a responsabilidade sócio-ambiental. Discordou do presidente e deixou a pasta. Sua história começou com Chico Mendes no Acre.

Ouvi-la é um alento. Uma voz serena, segura, informada. Firme quando tem que ser, sem histrionice. Lúcida, demonstra clareza sobre a situação do país. Suas idéias partem das questões ambientais englobando todos os grandes temas importantes da atualidade.

Sua candidatura seria um fio de esperança em ter em quem votar. Seria uma voz dissonante no discurso desenvolvimentista [ou crescimentista, daqueles que defendem o crescimento acima de tudo] predominante em nosso cenário político. Marina defende a sustentabilidade como pilar de uma economia de baixo carbono. Tem uma visão clara e coerente do Brasil. Acho que seria a única que poderia fazer frente à candidata de Lula, Dilma Roussef. Na verdade, sua história pessoal rivaliza com a de Lula. Faz Lula comer poeira.

Contudo, acho difícil que seja eleita. Lembro-me de Cristovam Buarque [eu votei nele] nas últimas eleições, que tinha como plataforma a educação. Mariana teria que convencer que a questão sócio-ambiental é mais abrangente. Ainda por cima teria que vencer os preconceitos: de cor, de classe, de gênero, religioso o regional.

Num quadro otimista, se eleita ficaria muito preocupado. Sem duvida ela formaria uma equipe bastante competente e afinada com suas idéias, há quadro no país para isso. Preocupa, entretanto, o papel do executivo e do legislativo no seu governo. Bem, isso preocuparia em qualquer governo lúcido e honesto, não?

Não nutro ilusões quanto ao Brasil. Não acho que haja vontade suficiente no país para solucionar seus problemas. Mas isso não quer dizer que eu não considere importante que o Brasil tenha à sua frente pessoas íntegras, capacitadas, sonhadoras, pessoas que acreditem em ideais. Mesmo sem ser candidata ainda, Marina Silva já tem o meu apoio.

Uma de suas frases preferidas, dita por ela: ‘Somos todos anjos de uma só asa, só voamos quando estamos abraçados’. [Léo Buscaglia]

Recomendo:
- áudio de recente entrevista na Radio Eldorado
- entrevista na RedeTV, em 3 blocos, mais de 45 minutos [procure na barra lateral direita do site a entrevista da senadora]

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

chuveiro elétrico

Nunca entendi direito o porquê da existência do chuveiro elétrico.

Quando era pequeno, tinha medo dos choques. E os chuveiros elétricos mais antigos davam choque a torto e a direita. Era comum entrar em chuveiros que tinham as torneiras protegidas por fita isolante. Preta. Assustadora. E coragem pra ligar o bicho?

Depois fui crescendo e me acostumando com os choques ao mesmo tempo em que a qualidade dos chuveiros melhorava. Então começou a me intrigar o fato de que para ter água quente era preciso diminuir o fluxo. Quanto menos água, mais quente, quanto mais água, mais fria. E quem é que quer tomar banho com pouca água? E no inverno? Não dá!

Ainda há o problema de queimar a resistência no meio do banho. Caramba, isso é demais! No meio do banho, você tentando regular a água, quente o suficiente para não congelar seu corpo molhado no frio do inverno, tentando chegar no limite sem desligar o dito cujo e a tal da resistência queima. Pronto! Quer coisa melhor?

Acima de tudo, me incomoda no chuveiro elétrico o fato de a água esquentar em contato com resistências elétricas. Água e eletricidade juntas, um pouco perigoso, um pouco assustador. Como sou leigo no assunto, não sabia, até ontem, que as resistências são blindadas e parará. Mas e o choque? Pois é...

Então, resolvi saber onde essa coisa tinha sido inventada, quem o inventou, porque? E sabe o que descobri? Que o chuveiro elétrico é uma invenção brasileira. Isso mesmo, legítima invenção do Brasil. E sabe qual a justificativa pra invenção? Era muito caro ter rede de gás para aquecer chuveiros nas casas. Pois é, mas isso nunca foi um problema que atrapalhasse a difusão do fogão a gás pelo país afora. Se fosse de fato o problema, teríamos todos fogões elétricos em casa, há anos. Acho que o Brasil é o único país no mundo que usa essa maravilhosa tecnologia em escala.

Sei que água quente no banho é uma evolução, um luxo. Mas pensa bem, o chuveiro elétrico é precário quando se compara o aquecimento da água através do gás e mesmo através de fogo a lenha. Tudo bem, os chuveiros elétricos evoluíram, ganharam pressurizadores, duchas com design, ficaram charmosos. Mas ainda assim, acho o chuveiro elétrico uma droga. Não tenho, não gosto de usar, nutro quase um ódio mortal por esse objeto abjeto. Sempre achei uma porcaria, uma idéia de jerico.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

grunhido



José Saramago tem um blog, O Caderno de Saramago, linkado aí ao lado. Ele escreve sobre seus interesses, política, literatura, artes, sobre os amigos, enfim, faz um blog. Lançou agora um livro com uma seleção de textos extraídos do blog. Em entrevista sobre o lançamento, disse o que acha do Twitter:

‘Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido’.

Confesso que também não fiquei tentado a aderir ao Twitter. Não que eu não goste de concisão. Mas o que eu teria a dizer lá que não diria aqui. Diria ‘fiz um novo post no blog’ ou ‘estou de saída’ ou ainda ‘Saramago não gosta do Twitter, nós grunhimos’. Não creio que gostaria de fazer isso. Já toma tempo abrir o blogger, escrever os textos, visitar outros blogs, editar fotos, textos, ler comentários, escrever comentários, procurar informações e checar fontes... E mais: agora que resolvi escrever me aparece essa de economia de palavras.

Aparte sua opinião sobre o Twitter, Saramago é um dos grandes intelectuais vivos pensando em língua portuguesa. Seus livros são perturbadores, suas idéias simples e diretas. Encontrei esses vídeos de uma entrevista sua para a Globo. Por Saramago, me rendo à Globo que tem seus lampejos de lucidez. Mas não precisava legendar a entrevista.

Termino com uma frase de Saramago: ‘no fundo, no fundo, tudo é pouco, tudo é insignificante’.


http://www.youtube.com/watch?v=4XDmsXWlDqE


http://www.youtube.com/watch?v=KukaoWu00Uw

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

falta de assunto

Não. Não é por falta de assunto que esse blog anda mudo, calado. Pelo contrário, assuntos há e muitos, alguns muito bons. O que anda faltando é vontade de falar dos assuntos que hoje me pegam, mexem comigo. Dá uma preguiça de falar das coisas para as quais não vejo solução...e também tem o outro blog, com o qual tenho um compromisso há mais tempo. Lá me obrigo a escrever uma vez por dia, então aqui fico às vezes sem vontade.

Estou selecionando algumas coisas que podem render algo para os próximos dias. Amanhã talvez, não prometo, quem sabe?

domingo, 2 de agosto de 2009

atos secretos resultam em censura

[Desembargador Dácio Vieira; sua mulher Angela; a mulher de Agaciel, Sanzia; José Sarney; Agaciel Maia; e o senador Renan Calheiros no casamento da filha de Agaciel]

Os atos secretos do Senado constituem ilícito de gravidade sem par. Melhor dizendo, deveriam ser considerados assim, como algo sem precedentes. Mas essa não é a realidade. Já estamos acostumados com crimes dessa monta contra a nação. Isso também não deveria ser assim.

O caso todo expõe as vísceras do Senado. O poder podre [nunca tinha notado a coincidência de letras das duas palavras, sempre tão próximas na política brasileira]. Expõe as vergonhas com as quais temos que conviver. Revela o caráter dos políticos, especialmente de José Sarney. Não canso de me perguntar, apesar de saber a resposta: será que ele não tem vergonha de fazer o que faz? Não, não sente vergonha. Por que em sua percepção das coisas, não faz nada de errado.

O jornal Estado de São Paulo divulgou os diálogos ao telefone entre Sarney e seu filho, Fernando Sarney e desse com a filha. A censura ao jornal é inaceitável, deplorável, um retrocesso, um pequeno deslize ditatorial. Dá arrepios! A liminar proíbe o Estadão de noticiar investigação sobre Fernando Sarney, filho de Sarney e também impede que meios de comunicação de todo o país utilize o material. O desembargador que impetrou a ordem é amigo de Sarney, deve favores veja foto acima]. Normal quando se trata da família Sarney. Não conseguiram censurar a internet, então os diálogos podem ainda ser ouvidos no You Tube [ouça abaixo ou direto no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=SKclv9AU_2w].

Sobre o estado das coisas no Senado não há o que se possa fazer. É coisa histórica, virou endemia, virou traço de personalidade nacional, não tem remédio. Agora, que a família Sarney se sinta aviltada em sua honra com a divulgação dos telefonemas que revelam atos de nepotismo relacionados a atos secretos e consiga ordem judicial censurando órgãos de imprensa, isso é demais. É a imprensa que desonra a família Sarney e não eles mesmos quando fazem o que fazem.

Ficou por conta do senador Pedro Simon a frase que melhor traduz a gravidade do caso, a falência do Senado e o cuidado que Sarney tem em preservar sua biografia: ‘O homem da transição democrática agora comete um ato da ditadura. Ele perdeu seu ultimo argumento. Isso é terrível. O presidente Sarney tem que renunciar’.

leia a notícia sobre a censura:
http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac411764,0.htm

veja página do estadao.com.br com os áudios dos diálogos censurados:
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,ouca-os-dialogos-que-ligam-sarney-a-atos-secretos-e-a-agaciel,406311,0.htm

ouça entrevistas com filósofos como Renato Janine Ribeiro e Roberto Romano, sociólogos e senadores sobre o caso dos atos secretos. Muito bom:
http://www.estadao.com.br/especiais/os-atos-secretos-de-um-senado-em-crise,62297.htm

veja lista dos mais de 600 atos secretos:http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,veja-os-663-atos-secretos-apontados-por-comissao-do-senado,391983,0.htm

quinta-feira, 30 de julho de 2009

fretados

O problema do transporte em São Paulo é gigantesco, tão grande quanto o trânsito da cidade. Resolver o problema exige planejamento e medidas rigorosas. O recente caso da restrição aos ônibus fretados é emblemática quanto ao tamanho do problema. Boas intenções não bastam por parte da prefeitura. Apesar de rigorosa, faltou planejamento [veja todas as noticias aqui].

Se a intenção era desafogar o trânsito de veículos de grande porte nas áreas centrais, o resultado é devolver os usuários de fretados aos seus carros ou ao transporte público. Ora, a existência de fretados, uma iniciativa interessante da sociedade civil para diminuir problemas de custo e deslocamento, revela a inoperância dos transportes públicos [veja mapa da situacao dos fretados].

Não é de hoje que o planejamento urbano de nossas cidades privilegia ações e projetos em benefício do automóvel em detrimento dos transportes coletivos e públicos. Não fosse assim, não haveria tantas obras de novos viadutos e túneis nos últimos anos em São Paulo. Recentemente voltou-se a discutir a ampliação das faixas das marginais, mais uma vez pensando no trânsito de automóveis. São milhões e milhões investidos em obras de asfalto.

Seria necessário parar por décadas com os investimentos em ruas, avenidas, túneis e viadutos e destinar recursos para o transporte público. Seria necessário que os usuários de carros percebessem a precariedade das ruas ao passo que pudessem usufruir de transporte público de qualidade. Não acredito que a questão possa ser solucionada com o atual estado de coisas – político, social, educacional, econômico. O caos urbano em São Paulo é parte de sua natureza de anti-cidade. Afinal, São Paulo não é mais uma cidade.

terça-feira, 28 de julho de 2009

o caso do lixo inglês



O caso do lixo inglês que chegou ao porto de Santos [acompanhe as notícias do caso] não é apenas sério em si. Serve de alerta para um dos maiores desafios ecológicos do planeta: o tratamento e o manejo de resíduos sólidos. O problema é tão grave que existe regulamentação internacional, determinada pela Convenção da Basiléia [leia texto integral]. Brasil e Reino Unido são signatários da convenção. O caso também serviu para mostrar que a importação e exportação ilegal de resíduos sólidos são mais comuns do que se poderia imaginar.

No Brasil, a inexistência de legislação sobre o setor de coleta seletiva e reciclagem causa danos ambientais de monta, além de causar prejuízos importantes. Uma política nacional para os resíduos sólidos, com diretrizes para a reciclagem e regulamentação da coleta seletiva municipal obrigatória tramita no congresso simplesmente há 18 anos, desde 1991.

O resíduo, a sobra, o lixo, é apenas a ponta do problema, na verdade apenas um elo na cadeia de produção. Uma cadeia de produção em que o resíduo é fim, no caso da produção dos bens de consumo e começo, no caso da reciclagem. Uma medida a ser tomada seria frear os impulsos consumistas da população mundial que compra desenfreadamente na mesma medida em que descarta suas sobras. Como isso não parece possível numa sociedade cada vez mais industrializada e ao mesmo tempo a cada dia mais auto indulgente, o problema parece sem solução. Vamos aguardar a boa das nações, dos governos, das pessoas. Quem sabe as coisas tomam outros rumos...a esperança está nas futuras gerações. Educá-las é uma tarefa que começa ontem.

[O titulo do video é 'Como funciona o imenso mercado mundial do lixo e resíduos tóxicos', producao Globo News, exibido no programa 'Sem Fronteiras' em 21/07/09. Caso não consiga assistir ao vídeo, siga o link: http://www.archive.org/details/Mcrost01-ComoFuncionaOImensoMercadoMundialDoLixoEResduosTxicos176 ]

segunda-feira, 27 de julho de 2009

livros nas férias

Dos livros que li nessas férias, 2 eram relacionados ao mar e 1 infantil [leia sobre o livro infantil aqui]. O outro, na realidade o primeiro que li, foi A sangue frio, de Truman Capote. Um livro excepcional que inaugurou o gênero livro de reportagem. O filme, recente, é igualmente muito bom.

As aventuras do mar foram lidos em Ubatuba, nada mais apropriado. Linha de Sombra, de Joseph Conrad e Diário de Bordo, de André Homem de Melo. Nunca tinha lido nada de Conrad, que estava na minha lista de autores a ler havia muito tempo. Conrad era natural da Polônia mas escreveu sua obra em inglês. Dizem que não falava bem a língua mas escrevia como um virtuoso. Me fascina essa relação com a língua estrangeira. Era o caso de Samuel Beckett, um de meus autores preferidos, irlandês que escreveu grande parte de sua obra em francês. E também de Elias Canetti, húngaro que escreveu em alemão.

Linha de sombra conta a aventura de um jovem imediato que assume seu primeiro navio como comandante. Sua primeira viagem é uma provação, marcada pela sombra do antigo comandante que assombra o navio e a tripulação. O livro é empolgante.

Diário de bordo é o relato das viagens transoceânicas de Andre Homem de Melo. Ele conta toda a sua trajetória, desde a compra do barco nos EUA, a viagem até o Brasil, a travessia do Atlântico nas comemorações dos 500 anos do descobrimento. Andre foi o primeiro brasileiro a dar a volta ao mundo em solitário sem escalas pelo Oceano Austral. Uma aventura sem igual. Fomos amigos na adolescência e guardo com carinho os momentos que vivenciamos juntos. Foi emocionante ler o seu relato.

Agora estou relendo Seis propostas para o próximo milênio, de Italo Calvino. Um de meus autores favoritos.

Décio Pignatari

Considero Décio Pignatari um dos intelectuais mais importantes do Brasil. Suas leituras sobre arte e arquitetura são fundamentais para quem pretende compreender essas manifestações culturais. Sua obra poética é uma das mais inovadoras e instigantes.

Foi um dos fundadores da poesia concreta, junto com Augusto e Haroldo de Campos. Um dos estudiosos mais consistentes da semiótica no Brasil, Décio foi fundamental em minha formação. Professor, só perde para Lucrécia D’Aléssio Ferrara, com quem deu aulas na FAU USP dos anos 70 aos 90.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

biografias


Já disse aqui que nossos ex-presidentes não sabem se comportar. Não teria sido melhor o Sarney ter ficado em casa depois de ter sido presidente do país? Não teria sido melhor pra biografia que ele tanto defende?

Desde quando o passado de alguém exime do cumprimento de obrigações, quaisquer que sejam? Imagina! Numa grande empresa, o fulano que já foi diretor, não precisa mais trabalhar pra justificar o salário. No time de futebol, o artilheiro do ano anterior, que no atua campeonato não corre mais é mantido no time pelo técnico por que foi o artilheiro do ano passado. Aquele sujeito exemplar, eleito o pai de família do ano, mata um cara numa briga de bar, mas não vai preso. Precisa mais algum exemplo? Só mais um: o presidente do senado, ex-presidente da república, atenta contra o decoro e a ética, infringe leis, é cúmplice em malversações, pinta e borda, mas por seu passado, por sua biografia, atesta ele mesmo, não pode ser tratado como uma pessoa comum. Pior, é defendido por outros, entre eles o atual presidente da república.

Quanto a Lula, pelo que se vê de seu relacionamento com Sarney e Collor, parece que quer passar a história como o presidente que reconheceu que os ex-presidentes merecem tratamento especial. Estará ele, defendendo as biografias, afagando ex-presidente, procurando justificar previamente a si próprio, preparando sua cama no futuro? Será?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

ubatuba

Como qualquer cidade brasileira, Ubatuba está cheia de problemas. Com cerca de 90 mil habitantes, a cidade é uma das que a população mais cresce. Limitada pela Serra do Mar a oeste e pelo oceano Atlântico a leste, o município tem 84 que perfazem 100km de litoral. A forte presença da serra e da mata atlântica faz com que a cidade se confunda com o Parque Estadual da Serra do Mar [veja núcleo Picinguaba].

Um das questões mais delicadas da cidade é encontrar o balanço entre o meio ambiente natural e o urbano. As áreas urbanas, em sua maioria ocupam as restingas, aquela faixa plana entre a serra e o mar [a restinga mais extensa em Ubatuba tem 16 km de largura, da serra ao mar]. São ecossistemas delicados, como todos os sistemas naturais litorâneos, da mata ao mangue. A Rio Santos ou BR 101 ou SP 55 corta a cidade transformou-se numa barreira intransponível para o sistema de águas dos manguezais que invadiam as restingas, gerando alguns acidentes ecológicos importantes ao longo da rodovia.

Outro ponto que merece atenção é o turismo. Se por um lado grande parte da população se beneficia do turismo, por outro, o fluxo sazonal, especialmente no verão, representa problemas no abastecimento de água, na coleta e manejo dos resíduos sólidos, na preservação da natureza.

Há anos a população vem ocupando os morros desordenadamente e sem controle da municipalidade. O surgimento de novas comunidades ao longo da BR 101 também esta acelerado. Praias fechadas e ocupadas por residências de luxo também são comuns. Entre muitos problemas, talvez um dos mais graves seja a falta da rede de tratamento de esgoto na cidade. O tratamento é feito por unidades autônomas de fossas por edifício.

Nos últimos anos, a orla nos bairros centrais vem recebendo tratamento especial, transformando-se num grande parque linear. As calçadas foram limpas, iluminadas e uma ciclovia foi construída. São cerca de 10 km de parque, do Cruzeiro ao porto do Itaguá, batizado de Caminhos de Anchieta.

Contudo, ao contrário da maioria das cidades, se os problemas são muitos, a paisagem é esplendorosa. O que é uma vantagem, a natureza com presença marcante e exuberante, é também uma responsabilidade a mais para o município. Se a natureza ali é bela e fácil, tão fácil que não espanta mais aos olhos de quem ali mora, é preciso esforço redobrado para conscientizar da necessidade de preservação.

domingo, 19 de julho de 2009

férias

As férias chegam ao fim. Já não agüentava mais ver o Michael no blog, embora ele continue sendo assunto. Não estou muito inteirado do que tem rolado pelo mundo, não li jornal, não vi TV, fiquei fora do ar durante esses 20 dias. Bom, muito bom, descansar, limpar a cabeça, fazer outras coisas, mudar de ambiente. Por outro lado, ruim, por que da uma vontade de ficar lá naquele mundo da preguiça, sem nada pra fazer a não ser curtir uma das paisagens mais bonitas do litoral brasileiro.

Nunca me canso de olhar esse contraste entre o mar e a serra, aquele paredão verde escuro que molha os pés nas ondas do mar. É impressionante. Mas a realidade é outra, mais chata, menos bela, nada impressionante. Então, se não podemos fazer nada, vamos a ela!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Michael Jackson morreu

Michael Jackson morreu. O Pop jamais será o mesmo sem ele. Morreu por problemas no coração, aos 50 anos.

Me lembro como se fosse hoje o di em que escutei pela primeira vez, em 79, seu álbum Off the Wall. Rock with you and I Can’t help it são hits que me marcaram muito. Continuou sendo sempre, pra mim, o melhor álbum dele. Não posso esquecer que no álbum Thriller, o mais vendido em todos os tempos [e que videoclip!], tinha a musica Billie Jean que na época significou tantas coisas pra mim, teve tanto a ver comigo naquela fase de minha juventude. Foi o primeiro clip de um artista negro a passar na MTV. Michael eternizou o moon walk como passo de dança. Ainda em Thriller tem Human Nature, belíssima.

Nunca entendi muito bem o que aconteceu com ele a partir de Thriller. A impressão que tenho é que tornou-se um estranho pra ele mesmo.

‘Billie Jean is not my lover, she’s just a girl who claims that I am the one, but the kid is not my son.’



Veja e leia mais:
http://www.allmichaeljackson.com/index.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Jackson
http://www.youtube.com/user/michaeljackson?blend=2&ob=4

father and daughter

quarta-feira, 24 de junho de 2009

in treatment

Clique na imagem para assistir a videos sobre a segunda temporada.

Não sou muito de assistir séries americanas. Gostava muito do Seinfeld, procurava não perder um. Quando acabou, não me encantei por nenhuma outra. Mas, no ano passado, achei intrigante a série que prometia acompanhar um analista e seus pacientes. Como os produtores conseguiriam transformar uma sessão de análise em algo interessante a ponto de ser assistido na televisão? O formato prometia algo bem interessante, a cada dia da semana, um paciente. Pra quem gosta de ouvir gente falando, como eu, é um prato cheio. Os diálogos são sensacionais, as situações complexas, os personagens muito ricos. O analista é Gabriel Byrne, ótimo no papel. Enfim, In Treatment é uma série que assisto com prazer [veja a programação de Em Terapia no Brasil].

Assisti a toda primeira temporada e temi que a segunda não saísse por causa da demora, Demorou mas saiu. Um dos criadores da série é Rodrigo Garcia, filho de um famoso escritor de sobrenome Garcia. Da pra imaginar quem?

primeira temporada:



caso nao visualize, veja aqui

terça-feira, 23 de junho de 2009

diploma de jornalismo

Foi um avanço o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Ranço da ditadura militar que a tudo queria censurar, inclusive quem poderia tratar da informação. Um anacronismo quando se percebe a revolução colocada pelos meios digitais e pelas tecnologias de informação e comunicação. Assim, estão asseguradas as liberdades de expressão e pensamento.

Parece que eu, intuitivamente, pensava nisso, quando larguei o curso de jornalismo um ano depois com a justificativa de que não precisava dele pra escrever. Sempre escrevi, acho que bem. Mas com as tarefas disso e daquilo, com as obrigações a cumprir nisso e naquilo, esse projeto de escrever ficou abandonado por muitos anos, até a que redescobri que escrevia relativamente bem fazendo a tese.

Ouço dizer que não devemos nos arrepender daquilo que fizemos. Conheço gente que não se arrepende de nada, mas a frase me soa um pouco ideal, a vida ideal, sem percalços, sem deslizes, sem senões. Tenho uma pá de coisas de que me arrependo, minha vida está longe de ser espelho de qualquer utilidade. Acho que seria mais feliz se fosse jornalista. Talvez tivesse me tornado um bom articulista. Ainda poderia sê-lo. Agora é tarde. Ora, nunca é tarde. Mas meu relógio anda meio parado.

Leia mais aqui e aqui.

sábado, 20 de junho de 2009

interview project

David Lynch lançou um projeto bastante instigante: Interview Project. 121 entrevistas com pessoas anônimas e comuns, percorrendo 25 milhas em 70 dias. Bem ao estilo americano de por o pé na estrada, na tradição de Jack Kerouac: On the road. Ouvir pessoas falando é uma das melhores coisas pra se assistir. Caço isso na TV o tempo todo. Interview Project tem um novo episódio a cada 3 dias.

David Lynch é uma marca. Como cineasta deu outro tom ao cinema nos anos 80 com Blue Velvet [ah! A bela Isabella Rosselini!]. Entretanto, O Homem Elefante é seu filme mais forte, radicalmente impressionante. O time do filme é incrível, com John Hurt e Anthony Hopkins encabeçando o elenco.

Não gosto de tudo o que fez, mas é um artista hábil em reconhecer as possibilidades dos meios. Até uma tira o homem criou, The angriest dog in the world. Com Twin Peaks na TV ficou mundialmente famoso.

O site de Lynch tem muita coisa interessante, como a previsão do tempo, por exemplo. E uma de suas companhias se chama ‘absurda’. Belo nome. E seu cabelo...é demais, não é?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

polícia militar na usp

A USP tem estado no noticiário por razões bem menos nobres do que deveria estar. A greve de professores e funcionários acabou em confronto com a policia militar [leia mais sobre o conflito aqui]. Confesso que fico chocado com a intervenção da polícia militar na USP. Como se chegou a esse ponto é difícil saber. Não achei mais que fosse ver esse tipo de autoritarismo no Brasil, quando se impõe algo através da força. A reitoria age em sintonia com as indicações do governo do estado. Triste é ver diretores das unidades apoiando a permanência da PM no campus [leia aqui quem são os diretores apóiam e os que são contra].

Do muito que li, duas passagens me chamam muita atenção. Primeiro Antonio Candido, que disse que a intervenção da PM na USP ‘é um atentado aos direitos mais sagrados que as pessoas têm de discutir, debater e agir sem nenhuma pressão do poder público’.

Entretanto, o que me pareceu mais lúcido até o momento foi o artigo ‘Sombras sobre a USP’ [leia na integra] de Marcelo Coelho na Folha de São Paulo desta quarta-feira, 17/06. Transcrevo aqui algumas passagens do artigo de Coelho.

'Aquela época tinha seus extremistas, dispostos, por exemplo, a fazer a reforma agrária “na lei ou na marra”. Eram, certamente, minoritários na população. Havia uma ordem a ser preservada, e uma legalidade para a qual os movimentos de massa não conferiam grande importância. Só uma intervenção militar daria conta da “baderna”.
É triste ver pessoas de belo currículo democrático, notoriamente perseguidas pelo regime militar, apoiando a ocupação da USP pela PM. Sem dúvida, a polícia age agora com autorização judicial e o golpe de 1964 foi, afinal, um golpe.
Do ponto de vista político, entretanto, as situações se assemelham. Como em 1964, muitos “democratas” agora acham que é preciso reprimir pela força as “minorias radicais”, contando com o aparato militar para defender a ordem, contra a “baderna”.'
[...]
‘O problema é saber por que se chegou a esse ponto -em que pessoas respeitáveis acabam achando que “só a PM resolve essa baderna”. Quando acontece isso, um sistema de representação e de poder se revela disfuncional. A política deixa de funcionar e a força prevalece’.
‘Se “minorias radicais” conduzem o processo, cabe perguntar onde estão as maiorias moderadas. Deveriam estar presentes nas assembleias (e piquetes) que decidem mobilizações em nome de todos’.
[...]
'O mesmo dilema levou a crises violentas no sistema político brasileiro, tempos atrás. Minorias “extremistas” se iludem com a omissão da maioria “ordeira”, que não se dá ao trabalho de mobilizar-se pela “ordem” e pela “moderação”. Afinal, tem as tropas a seu dispor’.'

Foi-se o tempo em que as universidade eram lugar de liberdades civis garantidas e defendidas pela nata da intelectualidade do pais.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

quanto vale um ex-presidente

O discurso de José Sarney no Senado, se defendendo de acusações de manobras ilícitas, é de chorar. [leia o discurso na integra aqui] Na verdade, é a cara do Senado. Como a crise pode ser do Senado sem ser dele, senador e presidente da casa? Não entendo. Como não? Não seria melhor que ele dissesse ‘a crise do senado é minha também, é nossa’, não seria? Noa seria algo mais a altura de um presidente do senado que já foi presidente do país? Diz ele que herdou a coisa nesse estado. Ora, como se ele não tivesse sido exercido a presidência do senado em outras duas oportunidades nos últimos 15 anos, 1995 e 2003. [veja sua trajetória política aqui]

Como é possível que um ex-presidente do país se submeta a esse papel? Mais grave é apelar para sua história pessoal exigindo tratamento digno daquilo que já fez. Até o presidente Lula afirmou que Sarney não merece tratamento de pessoa comum. Como é? Não entendo.

Tivesse Sarney se dado ao respeito depois que foi presidente do Brasil, tivesse dado ao cargo que exerceu o devido valor, tivesse atribuído ao seu papel a importância que teve [o primeiro presidente civil a assumir a presidência depois dos anos da ditadura] não estaria hoje no senado federal.

Não vejo presidentes de outros países se metendo na política nacional de seus paises. Vejo-os assumindo papeis de proeminência, de conselheiros, de homens de fato especiais, que trabalharam por suas nações exercendo o cargo de mais alto grau de importância. Isso não ocorre no Brasil. Dos 4 últimos presidentes, 2 estão no senado [Collor e Sarney] e os outros 2 estão envolvidos na política partidária [Itamar e Fernando Henrique]. FHC vive dando pitacos malcriados e provocativos na política de Lula. Nossos ex-presidentes se rebaixam ao invés de cultivar uma aura de dignidade e altivez que merecem os grandes estadistas. Fácil concluir que não tivemos [e não temos] grandes estadistas ou, ao menos, presidentes de grande estatura.

Fora Sarney! Mas quem no lugar dele?

tato profissional

Não acreditei em meus ouvidos ontem, quando ouvi Kleber Leite, vice-presidente do Flamengo, dizer aos microfones de radio e televisão que caso o técnico Cuca pedisse demissão, já tinha dois substitutos em vista e disse os nomes dos dois. Rapaz, isso é que é ambiente de trabalho profissional. Já pensou você no lugar do Cuca? Chega o seu chefe e diz, ‘escuta, caso você peça demissão, não se preocupe, já pensamos em dois possíveis substitutos pra você’.
Nunca vi um dirigente com tanto tato e sensibilidade como Kleber Leite. Muito sensível. Muito profissional. Não querendo demitir o técnico, anuncia publicamente que espera que ele peça demissão e, por isso, já está preparado. Trabalhe-se com um barulho desses!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

espaço urbano e cultura

O que há de errado nessa foto? A pichação lá no alto, na parede de tijolos? A pichação no portão e portas de enrolar? O lixo acumulado num canto da calçada? O carro estacionado na calçada? Sim, todas as respostas anteriores e mais um monte de coisas. A calçada de menos de um metro de largura, as construções sem recuo de frente, o ponto de ônibus [dá pra ver o ponto de ônibus?], a sujeira generalizada. Está tudo errado!

Não me estranharia que muitas pessoas não conseguissem enxergar nada de errado nessa foto. Sim, porque estamos tão acostumados com esse padrão urbano, com esse tipo de situação, que acabamos não vendo mais nada, não enxergando isso como um problema.

Agora, você vai me dizer que isso é na periferia, que as cidades brasileiras não são todas assim. São sim, todas as cidades brasileiras são assim. Ou até piores do que isso. O que temos são ilhas de excelência, lugares, pedaços da cidade em que se tem um mínimo de desenho urbano, de cuidado com o planejamento. Claro, esses pedaços acabam virando cartões postais. Sabe onde tirei essa foto? Na avenida do Cursino, no Ipiranga, São Paulo. O Ipiranga é um bairro bom, perto do centro da maior metrópole do país. Imagina a periferia da cidade. Não tenho dados concretos, mas posso apostar que no mínimo 70% do tecido urbano da cidade de São Paulo tem uma ocupação como esta ou pior.

E aí tenho outra pergunta. Cidade é cultura? E essa eu respondo rápido: sim, é cultura. Mas como todo o resto da cultura no Brasil está em estado de calamidade. Aí você vai dizer que cultura é tudo aquilo que define nossa identidade. Pois é, esta maneira de ocupar a cidade é um pouco de nossa identidade, herança dos portugueses, que ocuparam nossas encostas e morros desenhando ruas tortuosas com uma intensa relação de proximidade com as casas. Mas o estado em que se encontra essa ocupação, o estado de degradação, de descaso, isso também esta se tornando parte de nossa identidade.

O grande problema é que este padrão urbano, essa cara de cidade é a cara das cidades brasileiras que já não enxergamos mais porque crescemos no meio disso, convivendo com isso, vendo isso como se fosse natural. Gostaria que isso mudasse, que nossa cultura urbana pudesse ser valorizada, preservando seus valores positivos, mas enquanto tivermos olhos só pras ilhas de prosperidade de nossas cidades que nada tem a ver com nossa cultura, nada vai mudar.

terça-feira, 16 de junho de 2009

hi: real human interface



Muito bom! A coisa foi criada pelo coletivo multitouch de Barcelona que está desenvolvendo o que eles chama de Natural Interaction Project. Há outros trabalhos muito interessantes também, merecem uma espiada.

Caso não consiga ver o vídeo, siga por aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Gjd7rtlu5bU

segunda-feira, 15 de junho de 2009

feriado

O bom dos feriados é poder ficar sem ler os jornais, sem ver televisão, sem escutar noticia nenhuma e aproveitar pra curtir a família, ler um bom livro, tomar um sol quando ele pinta, correr um pouco, comer coisas diferentes, ficar de papo pro ar.

O ruim dos feriados é hora em que eles terminam e é preciso voltar pra mesma rotina e descobrir que nada mudou, as notícias são as mesmas, nada se resolveu, talvez o mundo tenha ficado um pouco pior e ainda há tantas coisas por fazer.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

home project



Home é um belo projeto que resultou num filme de Luc Besson. Será lançado em 87 paises em 14 línguas diferentes. É longo, cerca de 1 hora e meia, mas vale a pena assistir. As imagens são belíssimas.
Ficará no youtube até dia 14 de junho. Assista o filme aqui: http://www.youtube.com/homeproject
Visite o site: http://www.home-2009.com/us/index.html

terça-feira, 9 de junho de 2009

o limite dos olhos

I-Movix Sprintcam v3 sample shots from David Coiffier on Vimeo.


É impressionante o que se pode fazer com uma câmera nos dias de hoje. E pensar que a reprodução de imagens em movimento captadas por lentes e câmeras e impressionadas em películas tem em torno de 120 anos. Começou com os Irmãos Lumiére. Essas imagens em câmera super lenta, coisa de 1000 FPS ou mais revelam coisas que nossos olhos jamais poderiam sonhar em ver. Dão aos nossos olhos uma certa tatilidade, parece que os olhos tocam cada detalhe de um movimento jamais visto. Confirma a teoria dos formalistas de que o inusitado, o nunca visto, faz perdurar a recepção aumentando a qualidade da percepção. Vai dizer que não parece que se está tocando aquela gelatina com os olhos?

a greve acabou

Terminou a greve dos servidores municipais de Campinas. Foram 20 dias de greve. Segundo eles mesmos, o movimento foi vitorioso. Não sei, não. Conseguiram apenas o que a prefeitura ofereceu, dias atrás. E não se fala mais nos 56% de aumento no salário do prefeito.

Campinas não tem, hoje, oposição. A bancada dos vereadores apóia o prefeito, é situação. Há pelo menos uma exceção, o vereador Artur Orsi, do PSDB. Artur se coloca acima do partido. É homem íntegro, conhece a cidade, tem interesses genuínos por Campinas, atua ativamente na câmara municipal. Vamos procurar saber sua posição sobre o aumento do prefeito.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

AF447

Muito difícil falar do acidente do Air France 447. Tive que deixar ppassar um tempo pra assentar o impacto, pra organizar os sentimentos, as idéias. Qualquer acidente aéreo é bastante trágico, a violência do impacto muito grande, as conseqüências quase sempre fatais. Nesse caso o mais chocante era, até agora, o desaparecimento do avião. Não havia qualquer vestígio, nenhum traço de nada relacionado ao avião. Um acidente já é difícil de encarar, agora um acidente que não deixa nenhum sinal, sumiu, evaporou, nada! Finalmente encontraram alguns corpos e algumas coisas.

Confesso que tenho acompanhado pouco as notícias sobre o acidente. Fico sabendo de coisas pela Bia. Ela me contou de um casal que viajou separado, cada um com um dos filhos. Acho que mãe e filha estavam no AF447. Bia me perguntou se eu faria isso, caso viajássemos com nossos filhos. Não sei, acho que não. Fiquei pensando que se eu ficasse vivo seria tão difícil encarar a morte de parte da família, tão difícil suportar que perdesse mãe e irmão(s) que preferia que estivéssemos todos juntos. Perguntei se ela gostaria de ficar, viva, nessa situação. Expliquei meus sentimentos. Ela pensou um pouco e concordou comigo.

O fato é que toda viagem envolve riscos. Por mar, ar, terra, motorizado, a cavalo, de bicicleta, a pé. Não importa. Empreender uma viagem envolve riscos. Riscos conhecidos. Impossível saber se o risco se confirmará.

Sempre gostei muito de viajar de avião. Nunca tive medo. Até que me tornei pai. Mas isso não me impediu de continuar viajando. Apenas acrescentou um dado novo. Agora, toda vez que entro num avião tenho consciência dos riscos e enfrento o medo.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

a história das coisas

The story of stuff, uma animação muito boa sobre a cadeia produtiva que alimenta o consumo.

Há uma versão dublada no youtube, parte 1 e parte 2. Recomendo assistir o vídeo no próprio site [clique na imagem acima] por que lá é interativo. Há muito mais coisas no site.

Não vou dizer que vou deixar de consumir, mas que é possível maneirar um pouco, isso dá. Os EUA são realmente grandes vilões nessa cadeia, mas nós seguimos o mesmo modelo. E quanto a consciência da perversidade de todo o processo e as novas maneiras de encará-lo, bem aí é outra história. Acho que há algo a caminho, mas longe ainda de ser algo efetivo. Quem está envolvido com crianças tem responsabilidade redobrada.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

publicidade na tv

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comunicação à brasileira

Num país em que a fronteira entre certo e errado, entre bom e ruim, entre qualidade positiva e negativa, num país em que os valores são todos pervertidos e o conceito de ética é apenas um borrão nebuloso, jornalismo independente é artigo de luxo. Acho que se há exceções significativas, estas estão no rádio. Jornais impressos chegaram a tal ponto que a leitura nos fins de semana ficou completamente comprometida. Perdi a paciência com a Folha de São Paulo e contei quantas páginas de anúncios tinha a edição de domingo: 70% do jornal. Perdidas no meio de lançamentos imobiliários, era quase impossível encontrar as notícias que se transformaram em notas, adereços, penduricalhos ao conteúdo principal: mercado imobiliário. Escrevi ao ombudsman da época com os dados e disse ele que eu não era o único incomodado, mas que essa era a tendência do jornalismo no Brasil. Claro que jornais sérios pelo mundo não sucumbem a interesses meramente monetários, pois têm princípios que os impedem de se venderem antes de vender informação, razão de sua existência. Desisti da Folha. O concorrente, O Estado de São Paulo é um pouco melhor. O que salva os jornais são seus articulistas.

As revistas não ficam atrás. Ter que engolir a Veja como a grande formadora de opinião é demais. Falar de informação tendenciosa é pouco quando se trata de Veja. Eu não acredito na idoneidade do que se escreve por lá. Claro, assim como nos jornais, nas revistas há gente muito boa, especialmente os articulistas. Mesmo assim, raramente leio revistas.

Televisão então, nem se fala. Há tempos não assisto os canais abertos, Globo, Bandeirantes, SBT, Record. Nem a TV Cultura assisto mais. Acho que já assisti minha cota de Rede Globo pelo resto da vida, foram anos assistindo a novelas, agüentando o Galvão Bueno e o Jornal Nacional. Sinto arrepios só de escrever isso tudo. Novelas não são apenas o retrato do Brasil, mas estabelecem padrões culturais que se sedimentam com muita força. Um absurdo em se tratando de um país tão desigual quanto o nosso. E o jornalismo da Globo é dos mais tendenciosos, noticiam o que querem, como querem, segundo interesses próprios dos mais diversos. O casal-âncora, que por sinal também tem trigêmeos [sempre digo que a diferença entre a família deles e a nossa é apenas da ordem de 6 zeros], me parecem dois bonecos ventríloquos, tão durinhos são. Programas de domingo, então, nem se fala. Nunca vi coisa de tão baixa qualidade. Não agüento ver Gugu, Faustão, Hulk, Luciana, Galisteu e outros da mesma estirpe. Se essas são as pessoas influentes em nossa cultura, estamos mal.

Já virou jargão dizer que a qualidade de nossa produção televisiva é excelente. Eu acrescentaria apenas uma palavra para concordar com a afirmação: técnica. A qualidade técnica de nossas produções televisivas é muito boa, mas o conteúdo, nem tanto. E haja paciência pra tanto merchandising. Às vezes zapeio pelos canais e não consigo ficar mais que um minuto assistindo a essa massa de desinformação. O volume de conteúdos pobres é tão grande e tão rasteiro que me deixa extremamente incomodado. Vejo uma relação entre, por exemplo, violência e programas de auditório. Acho que daria uma boa tese de doutorado em sociologia. Aliás, tenho certeza que algumas foram e outras estão sendo escritas sobre o assunto.

Antes que alguém me acuse de alienação, digo logo que antes alienado que dragado pela miséria televisiva que nos assola. Antes que me chamem de elitista, digo que, ao contrário, elitista é nossa imprensa, que escreve sempre sob o mesmo ponto de vista, de uma minoria com privilégios, mas nem por isso esclarecida. A opção de me privar dessas coisas é pra me preservar, por que me faz muito mal.

Acho que já faz 4 anos que não vejo canais abertos e mais ainda que não leio revistas. Jornal, de sexta a segunda, só. Isso, mais um pouco de rádio, documentários, filmes e programas esportivos me satisfazem completamente. Ficar por fora disso tudo que é o retrato do Brasil não me faz falta. Vivo isso todos os dias quando saio às ruas. Ao contrário, não ver a cara do Brasil na televisão e nas revistas me faz muito bem. [leia mais aqui]

a greve continua

A greve prossegue. O blog dos servidores se transformou numa grande ferramenta de comunicação, não só entre os servidores, mas entre eles e a população da cidade.

Duas pequenas notas:

1] Achei no blog a explicação para cobertura ridícula que a greve vem tendo em toda a mídia campineira: a prefeitura é um dos maiores clientes dos canais de TV, jornais e rádios locais, com mais de 30 milhões gastos em publicidade. O post merece ser lido.

2] A prefeitura tenta ignorar a greve, o portal na web não tem uma nota sequer sobre a greve. Parece brincadeira, mas não é.