quinta-feira, 4 de junho de 2009

comunicação à brasileira

Num país em que a fronteira entre certo e errado, entre bom e ruim, entre qualidade positiva e negativa, num país em que os valores são todos pervertidos e o conceito de ética é apenas um borrão nebuloso, jornalismo independente é artigo de luxo. Acho que se há exceções significativas, estas estão no rádio. Jornais impressos chegaram a tal ponto que a leitura nos fins de semana ficou completamente comprometida. Perdi a paciência com a Folha de São Paulo e contei quantas páginas de anúncios tinha a edição de domingo: 70% do jornal. Perdidas no meio de lançamentos imobiliários, era quase impossível encontrar as notícias que se transformaram em notas, adereços, penduricalhos ao conteúdo principal: mercado imobiliário. Escrevi ao ombudsman da época com os dados e disse ele que eu não era o único incomodado, mas que essa era a tendência do jornalismo no Brasil. Claro que jornais sérios pelo mundo não sucumbem a interesses meramente monetários, pois têm princípios que os impedem de se venderem antes de vender informação, razão de sua existência. Desisti da Folha. O concorrente, O Estado de São Paulo é um pouco melhor. O que salva os jornais são seus articulistas.

As revistas não ficam atrás. Ter que engolir a Veja como a grande formadora de opinião é demais. Falar de informação tendenciosa é pouco quando se trata de Veja. Eu não acredito na idoneidade do que se escreve por lá. Claro, assim como nos jornais, nas revistas há gente muito boa, especialmente os articulistas. Mesmo assim, raramente leio revistas.

Televisão então, nem se fala. Há tempos não assisto os canais abertos, Globo, Bandeirantes, SBT, Record. Nem a TV Cultura assisto mais. Acho que já assisti minha cota de Rede Globo pelo resto da vida, foram anos assistindo a novelas, agüentando o Galvão Bueno e o Jornal Nacional. Sinto arrepios só de escrever isso tudo. Novelas não são apenas o retrato do Brasil, mas estabelecem padrões culturais que se sedimentam com muita força. Um absurdo em se tratando de um país tão desigual quanto o nosso. E o jornalismo da Globo é dos mais tendenciosos, noticiam o que querem, como querem, segundo interesses próprios dos mais diversos. O casal-âncora, que por sinal também tem trigêmeos [sempre digo que a diferença entre a família deles e a nossa é apenas da ordem de 6 zeros], me parecem dois bonecos ventríloquos, tão durinhos são. Programas de domingo, então, nem se fala. Nunca vi coisa de tão baixa qualidade. Não agüento ver Gugu, Faustão, Hulk, Luciana, Galisteu e outros da mesma estirpe. Se essas são as pessoas influentes em nossa cultura, estamos mal.

Já virou jargão dizer que a qualidade de nossa produção televisiva é excelente. Eu acrescentaria apenas uma palavra para concordar com a afirmação: técnica. A qualidade técnica de nossas produções televisivas é muito boa, mas o conteúdo, nem tanto. E haja paciência pra tanto merchandising. Às vezes zapeio pelos canais e não consigo ficar mais que um minuto assistindo a essa massa de desinformação. O volume de conteúdos pobres é tão grande e tão rasteiro que me deixa extremamente incomodado. Vejo uma relação entre, por exemplo, violência e programas de auditório. Acho que daria uma boa tese de doutorado em sociologia. Aliás, tenho certeza que algumas foram e outras estão sendo escritas sobre o assunto.

Antes que alguém me acuse de alienação, digo logo que antes alienado que dragado pela miséria televisiva que nos assola. Antes que me chamem de elitista, digo que, ao contrário, elitista é nossa imprensa, que escreve sempre sob o mesmo ponto de vista, de uma minoria com privilégios, mas nem por isso esclarecida. A opção de me privar dessas coisas é pra me preservar, por que me faz muito mal.

Acho que já faz 4 anos que não vejo canais abertos e mais ainda que não leio revistas. Jornal, de sexta a segunda, só. Isso, mais um pouco de rádio, documentários, filmes e programas esportivos me satisfazem completamente. Ficar por fora disso tudo que é o retrato do Brasil não me faz falta. Vivo isso todos os dias quando saio às ruas. Ao contrário, não ver a cara do Brasil na televisão e nas revistas me faz muito bem. [leia mais aqui]

Um comentário:

Glória disse...

Octávio, por que no Brasil na TV paga pelo assinante (TV a cabo) há comerciais ? Nas BBCs do Reino Unido, por exemplo, há uma taxa mensal paga por aparelho de TV, e portanto, não há comerciais. Faz sentido.
Uma propaganda bem bolada é arte...
mas propagandas como as do Magazine Luiza, do Ricardo Eletro, Casas Bahia, etc. , são as piores, apelam, gritam repetidamente preços batendo martelos, mostrando os preços, totalmente insuportáveis, uma aberração.

Falo aos meus filhos : - meu querido/querida seu cérebro é uma caixa mágica e abençoada, um tesouro, não jogue lixo nela...