quinta-feira, 20 de agosto de 2009

compaixão

[Kenny MacAskill]

Numa dessas raras coincidências, assisti ao vivo, hoje pela manhã, na BBC, o discurso do secretário de justiça da Escócia, Kenny MacAskill, que tratava de libertar um terrorista, com doença terminal, para morrer em seu país, com sua família, em sua casa. Trata-se de Abdelbaset Ali Mohamed al-Megrahi, líbio, julgado e considerado culpado, preso desde 2001, pelo atentado a bomba ao vôo 103 da Pan Am em 1988 que tirou a vida de 270 pessoas. Megrahi, que tem câncer terminal na próstata, foi libertado por compaixão.

Segundo o governo Escocês, a decisão foi bastante ponderada antes de ser tomada e anunciada. Decisão bastante singular que, sem dúvida, causará muita polêmica. O discurso do secretário, Kenny MacAskill, teve um tom grave sendo, porém, uma lição de humanismo. Transcrevo aqui alguns trechos, traduzidos por mim:

‘O Sr. al-Megrahi não demonstrou nenhuma piedade nem compaixão por suas vítimas. Elas não puderam retornar ao sei de suas famílias para zelar por suas vidas, para viver seus últimos dias em paz. Nenhuma compaixão foi demonstrada por ele para com elas.
[…]
Mas isso apenas não é razão para que nós neguemos compaixão a ele e sua família em seus últimos dias.
[…] Nosso sistema de justiça requer que se imponha o julgamento mas que se possa recorrer à compaixão.
[…]
Por essas razões e apenas por essas razões é minha decisão que o Sr. Abdelbaset Ali Mohamed al-Megrahi, condenado em 2001 pelo atentado em Lockerbie, agora doente terminal de câncer prostático, seja libertado por compaixão e possa retornar a Líbia para morrer.
[…]
Compaixão e perdão são suportes das crenças pelas quais procuramos viver, permanecendo como verdade para nossos valores como povo, independente da severidade da provocação ou da atrocidade perpetrada.’

3 comentários:

Anônimo disse...

emocionou geral, muito. Que atitude, que depoimento mais do que tocante e humano. Compaixão é a palavra. Me lembrei de uma frase da Clarice Lispector: ´me dá um carinho pela raça humana. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.´
um gde abraço, pai dos tri
:)
madoka

Glória disse...

Se realmente não houver interesse político, foi um ato humanitário exuberante. Não me surpreende vir de um escocês..., em assuntos de justiça, caráter e sensibilidade eles são exemplos humanitários.
A compaixão é o que temos de mais sagrado. Como Jesus disse: "Perdôa Pai, eles não sabem o que fazem."
E como diz aquele meu amigo,
- eles vão morrer não vão ? Dessa ninguém escapa.

Glória disse...

Por outro lado... temos a viúva americana Stephanie Bemstein (com esse sobrenome, judia com certeza, que deve trazer a dor da perda & injustiça do passado em sua história pessoal) reprovando a decisão de libertar o assassino, estando ele à beira da morte ou não... Ela tem fortes suas convicções, e nos faz pensar.
Imagino que a grande maioria dos familiares das vítimas estejam indignadas com a decisão.
Esse assunto é realmente polêmico...