quinta-feira, 30 de julho de 2009

fretados

O problema do transporte em São Paulo é gigantesco, tão grande quanto o trânsito da cidade. Resolver o problema exige planejamento e medidas rigorosas. O recente caso da restrição aos ônibus fretados é emblemática quanto ao tamanho do problema. Boas intenções não bastam por parte da prefeitura. Apesar de rigorosa, faltou planejamento [veja todas as noticias aqui].

Se a intenção era desafogar o trânsito de veículos de grande porte nas áreas centrais, o resultado é devolver os usuários de fretados aos seus carros ou ao transporte público. Ora, a existência de fretados, uma iniciativa interessante da sociedade civil para diminuir problemas de custo e deslocamento, revela a inoperância dos transportes públicos [veja mapa da situacao dos fretados].

Não é de hoje que o planejamento urbano de nossas cidades privilegia ações e projetos em benefício do automóvel em detrimento dos transportes coletivos e públicos. Não fosse assim, não haveria tantas obras de novos viadutos e túneis nos últimos anos em São Paulo. Recentemente voltou-se a discutir a ampliação das faixas das marginais, mais uma vez pensando no trânsito de automóveis. São milhões e milhões investidos em obras de asfalto.

Seria necessário parar por décadas com os investimentos em ruas, avenidas, túneis e viadutos e destinar recursos para o transporte público. Seria necessário que os usuários de carros percebessem a precariedade das ruas ao passo que pudessem usufruir de transporte público de qualidade. Não acredito que a questão possa ser solucionada com o atual estado de coisas – político, social, educacional, econômico. O caos urbano em São Paulo é parte de sua natureza de anti-cidade. Afinal, São Paulo não é mais uma cidade.

terça-feira, 28 de julho de 2009

o caso do lixo inglês



O caso do lixo inglês que chegou ao porto de Santos [acompanhe as notícias do caso] não é apenas sério em si. Serve de alerta para um dos maiores desafios ecológicos do planeta: o tratamento e o manejo de resíduos sólidos. O problema é tão grave que existe regulamentação internacional, determinada pela Convenção da Basiléia [leia texto integral]. Brasil e Reino Unido são signatários da convenção. O caso também serviu para mostrar que a importação e exportação ilegal de resíduos sólidos são mais comuns do que se poderia imaginar.

No Brasil, a inexistência de legislação sobre o setor de coleta seletiva e reciclagem causa danos ambientais de monta, além de causar prejuízos importantes. Uma política nacional para os resíduos sólidos, com diretrizes para a reciclagem e regulamentação da coleta seletiva municipal obrigatória tramita no congresso simplesmente há 18 anos, desde 1991.

O resíduo, a sobra, o lixo, é apenas a ponta do problema, na verdade apenas um elo na cadeia de produção. Uma cadeia de produção em que o resíduo é fim, no caso da produção dos bens de consumo e começo, no caso da reciclagem. Uma medida a ser tomada seria frear os impulsos consumistas da população mundial que compra desenfreadamente na mesma medida em que descarta suas sobras. Como isso não parece possível numa sociedade cada vez mais industrializada e ao mesmo tempo a cada dia mais auto indulgente, o problema parece sem solução. Vamos aguardar a boa das nações, dos governos, das pessoas. Quem sabe as coisas tomam outros rumos...a esperança está nas futuras gerações. Educá-las é uma tarefa que começa ontem.

[O titulo do video é 'Como funciona o imenso mercado mundial do lixo e resíduos tóxicos', producao Globo News, exibido no programa 'Sem Fronteiras' em 21/07/09. Caso não consiga assistir ao vídeo, siga o link: http://www.archive.org/details/Mcrost01-ComoFuncionaOImensoMercadoMundialDoLixoEResduosTxicos176 ]

segunda-feira, 27 de julho de 2009

livros nas férias

Dos livros que li nessas férias, 2 eram relacionados ao mar e 1 infantil [leia sobre o livro infantil aqui]. O outro, na realidade o primeiro que li, foi A sangue frio, de Truman Capote. Um livro excepcional que inaugurou o gênero livro de reportagem. O filme, recente, é igualmente muito bom.

As aventuras do mar foram lidos em Ubatuba, nada mais apropriado. Linha de Sombra, de Joseph Conrad e Diário de Bordo, de André Homem de Melo. Nunca tinha lido nada de Conrad, que estava na minha lista de autores a ler havia muito tempo. Conrad era natural da Polônia mas escreveu sua obra em inglês. Dizem que não falava bem a língua mas escrevia como um virtuoso. Me fascina essa relação com a língua estrangeira. Era o caso de Samuel Beckett, um de meus autores preferidos, irlandês que escreveu grande parte de sua obra em francês. E também de Elias Canetti, húngaro que escreveu em alemão.

Linha de sombra conta a aventura de um jovem imediato que assume seu primeiro navio como comandante. Sua primeira viagem é uma provação, marcada pela sombra do antigo comandante que assombra o navio e a tripulação. O livro é empolgante.

Diário de bordo é o relato das viagens transoceânicas de Andre Homem de Melo. Ele conta toda a sua trajetória, desde a compra do barco nos EUA, a viagem até o Brasil, a travessia do Atlântico nas comemorações dos 500 anos do descobrimento. Andre foi o primeiro brasileiro a dar a volta ao mundo em solitário sem escalas pelo Oceano Austral. Uma aventura sem igual. Fomos amigos na adolescência e guardo com carinho os momentos que vivenciamos juntos. Foi emocionante ler o seu relato.

Agora estou relendo Seis propostas para o próximo milênio, de Italo Calvino. Um de meus autores favoritos.

Décio Pignatari

Considero Décio Pignatari um dos intelectuais mais importantes do Brasil. Suas leituras sobre arte e arquitetura são fundamentais para quem pretende compreender essas manifestações culturais. Sua obra poética é uma das mais inovadoras e instigantes.

Foi um dos fundadores da poesia concreta, junto com Augusto e Haroldo de Campos. Um dos estudiosos mais consistentes da semiótica no Brasil, Décio foi fundamental em minha formação. Professor, só perde para Lucrécia D’Aléssio Ferrara, com quem deu aulas na FAU USP dos anos 70 aos 90.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

biografias


Já disse aqui que nossos ex-presidentes não sabem se comportar. Não teria sido melhor o Sarney ter ficado em casa depois de ter sido presidente do país? Não teria sido melhor pra biografia que ele tanto defende?

Desde quando o passado de alguém exime do cumprimento de obrigações, quaisquer que sejam? Imagina! Numa grande empresa, o fulano que já foi diretor, não precisa mais trabalhar pra justificar o salário. No time de futebol, o artilheiro do ano anterior, que no atua campeonato não corre mais é mantido no time pelo técnico por que foi o artilheiro do ano passado. Aquele sujeito exemplar, eleito o pai de família do ano, mata um cara numa briga de bar, mas não vai preso. Precisa mais algum exemplo? Só mais um: o presidente do senado, ex-presidente da república, atenta contra o decoro e a ética, infringe leis, é cúmplice em malversações, pinta e borda, mas por seu passado, por sua biografia, atesta ele mesmo, não pode ser tratado como uma pessoa comum. Pior, é defendido por outros, entre eles o atual presidente da república.

Quanto a Lula, pelo que se vê de seu relacionamento com Sarney e Collor, parece que quer passar a história como o presidente que reconheceu que os ex-presidentes merecem tratamento especial. Estará ele, defendendo as biografias, afagando ex-presidente, procurando justificar previamente a si próprio, preparando sua cama no futuro? Será?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

ubatuba

Como qualquer cidade brasileira, Ubatuba está cheia de problemas. Com cerca de 90 mil habitantes, a cidade é uma das que a população mais cresce. Limitada pela Serra do Mar a oeste e pelo oceano Atlântico a leste, o município tem 84 que perfazem 100km de litoral. A forte presença da serra e da mata atlântica faz com que a cidade se confunda com o Parque Estadual da Serra do Mar [veja núcleo Picinguaba].

Um das questões mais delicadas da cidade é encontrar o balanço entre o meio ambiente natural e o urbano. As áreas urbanas, em sua maioria ocupam as restingas, aquela faixa plana entre a serra e o mar [a restinga mais extensa em Ubatuba tem 16 km de largura, da serra ao mar]. São ecossistemas delicados, como todos os sistemas naturais litorâneos, da mata ao mangue. A Rio Santos ou BR 101 ou SP 55 corta a cidade transformou-se numa barreira intransponível para o sistema de águas dos manguezais que invadiam as restingas, gerando alguns acidentes ecológicos importantes ao longo da rodovia.

Outro ponto que merece atenção é o turismo. Se por um lado grande parte da população se beneficia do turismo, por outro, o fluxo sazonal, especialmente no verão, representa problemas no abastecimento de água, na coleta e manejo dos resíduos sólidos, na preservação da natureza.

Há anos a população vem ocupando os morros desordenadamente e sem controle da municipalidade. O surgimento de novas comunidades ao longo da BR 101 também esta acelerado. Praias fechadas e ocupadas por residências de luxo também são comuns. Entre muitos problemas, talvez um dos mais graves seja a falta da rede de tratamento de esgoto na cidade. O tratamento é feito por unidades autônomas de fossas por edifício.

Nos últimos anos, a orla nos bairros centrais vem recebendo tratamento especial, transformando-se num grande parque linear. As calçadas foram limpas, iluminadas e uma ciclovia foi construída. São cerca de 10 km de parque, do Cruzeiro ao porto do Itaguá, batizado de Caminhos de Anchieta.

Contudo, ao contrário da maioria das cidades, se os problemas são muitos, a paisagem é esplendorosa. O que é uma vantagem, a natureza com presença marcante e exuberante, é também uma responsabilidade a mais para o município. Se a natureza ali é bela e fácil, tão fácil que não espanta mais aos olhos de quem ali mora, é preciso esforço redobrado para conscientizar da necessidade de preservação.

domingo, 19 de julho de 2009

férias

As férias chegam ao fim. Já não agüentava mais ver o Michael no blog, embora ele continue sendo assunto. Não estou muito inteirado do que tem rolado pelo mundo, não li jornal, não vi TV, fiquei fora do ar durante esses 20 dias. Bom, muito bom, descansar, limpar a cabeça, fazer outras coisas, mudar de ambiente. Por outro lado, ruim, por que da uma vontade de ficar lá naquele mundo da preguiça, sem nada pra fazer a não ser curtir uma das paisagens mais bonitas do litoral brasileiro.

Nunca me canso de olhar esse contraste entre o mar e a serra, aquele paredão verde escuro que molha os pés nas ondas do mar. É impressionante. Mas a realidade é outra, mais chata, menos bela, nada impressionante. Então, se não podemos fazer nada, vamos a ela!