domingo, 31 de maio de 2009

Podrebras - Daniel Piza

Eu sou dos que acreditam que os jornais impressos não vão morrer. Ao menos o jornalismo escrito não vai. Há uma onda nos EUA de jornais antigos e tradicionais fechando. Aconteceu com um dos mais antigos país, o Rocky Mountain News, de Denver, CO, EUA. O famoso ‘isto matará aquilo’ é uma recorrência desde Victor Hugo, os livros matariam a cidade. Aconteceu com o telefone, que mataria as conversas ao vivo, com o cinema que mataria o teatro, com a TV que mataria o cinema, com a internet e agora com os jornais em suporte digital e a proliferação dos blogs e outros recursos de comunicação. Daniel Piza, articulista do Estado de São Paulo compartilha dessa mesma opinião.

Sou leitor contumaz de jornais impressos. Gosto de folheá-lo, de sentir o papel entre os dedos, da tinta que impregna os dedos e deixa marcas em tudo, do cheiro quase ruim de tão bom, de percorrer o espaço das páginas, de ler principalmente os articulistas e estabelecer com eles uma espécie de diálogo intelectual mediado. Foi assim, lendo o Estadão que passei a seguir o que escreve o Piza. Procuro não perder um de seus textos, muito menos suas ‘Sinopses’ aos domingos e se perco recorro ao blog [listado aí ao lado]. Piza é umas das penas mais lúcidas no jornalismo brasileiro.

Neste domingo, Piza escreveu sobre as 'Notícias da Podrebras', agência que divulga a podridão do poder público. Transcrevo aqui suas últimas linhas: “Num país de cultura oligárquica, onde a classe política sempre se protege da opinião pública por mais que brigue entre si, cidadania é sempre uma palavra bonita, não uma representação real. Aqui a máxima de que ‘à mulher de César não basta ser honesta, é preciso parecer honesta’, sofreu ligeira adaptação: à mulher de César não importa ser desonesta, basta parecer honesta. Ave.”

sábado, 30 de maio de 2009

desdecuba.com/generaciony

Dizem que este é o blog mais visitado do mundo. Trata-se do blog Generacion Y da blogueira cubana Yoani Sánchez. Yoani relata sua vida em Cuba e luta contra a censura e pela liberdade de expressão.

Cuba é um país impressionante. Não sei como é possível que tal opressão ainda aconteça nos dias de hoje. Claro, Cuba não é o único lugar do mundo em que se cometem crimes contra a democracia e as liberdades individuais, mas talvez seja o mais emblemático, pela longevidade do regime imposto por Fidel.

Sou a favor da igualdade entre todos, igualdade social, econômica, de direitos, igualdade em todos os sentidos. Mas não é preciso que seja como em Cuba, uma igualdade em que todos beiram a miséria, com privação de liberdades essenciais. Caso não fosse assim, não haveria ainda hoje cubanos pedindo asilo político por toda a parte [asilo que o Brasil negou aos boxeadores cubanos no Pan do Rio, por reconhecer a legitimidade do governo de Cuba].

Que a conquista da igualdade possa garantir o bem estar de todos.



Caso nao consiga assistir aqui, veja direto no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=_fh1xAa57_8

sexta-feira, 29 de maio de 2009

A farsa do aquecimento global

Essa achei no blog do Fernando Brito. O tema é controverso, mas as teses colocadas pelo documentário fazem muito sentido. E há vários fatos bem documentados, como, por exemplo, as alterações na atividade do sol e sua relação com as alterações de temperatura dos oceanos e no planeta. Há também a hipótese de que há o interesse de manter o mundo em desenvolvimento inalterado, ou seja, sem transformações que fomentem a qualidade de vida das pessoas.

Interessante pensar que nos anos 70 houve aqueles que afirmaram que passaríamos por um resfriamento global! Impressionante mesmo é perceber como a mídia aderiu a causa de forma massiva. Será mesmo uma farsa? Não duvido! Vale a pena assistir.



As outras partes do documentário no youtube: parte 2, parte 3, parte 4, parte 5, parte 6, parte 7, parte 8, parte 9.
O documentário inteiro, no Google.
O documentário inteiro, no garagetv.
Site do documentário no Channel 4.
Info no wikipedia.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

falta!

A violência com a qual convivemos todos os dias também está presente no futebol. Afinal uma coisa reflete na outra, no futebol estão representadas as relações sociais, o futebol é um retrato da sociedade, é a cara dela! E não só nas arquibancadas. Dentro de campo acontece o mesmo.

O futebol no Brasil é violento. Tanto quanto nossas ruas. E muito violento [leia texto de Tostão]. É comum um jogo apresentar coisa de uma falta por minuto. 40 faltas em apenas um dos tempos de jogo.

Na final da UEFA Champions League, jogada ontem em Roma, entre o Barcelona de Lionel Messi e o Manchester United de Cristiano Ronaldo, foram 17 faltas durante todo o jogo. Sim, 17 apenas! 10 do Machester, 7 do Barcelona que sagrou-se campeão vencendo por 2 a 0. Não é sensacional? Arrisco a dizer que não é o mesmo jogo. Aqui joga-se um outro jogo, futebol é o que se joga na Europa.

56 a 3 – greve em Campinas

Os servidores municipais de Campinas estão em greve há oito dias. A greve afeta o atendimento no hospital municipal, nas creches e escolas municipais. Há muito tempo não via um movimento grevista tão organizado e mobilizado. A frente do Paço Municipal está tomada pelos servidores desde o início da greve. Suas manifestações e passeatas são marcadas para os horários de pico na cidade, entre 11 e 13 horas e 17 e 19 horas. A estratégia é incomodar a população. chamar a atenção para a greve. É uma forma de luta inteligente.

Particularmente, sou favorável a todo o tipo de reivindicação. Acho que é um direito do trabalhador cobrar reposições salariais numa economia em que tudo sofre reajuste puxando a inflação pra cima. Apesar de morar a duas quadras da prefeitura e a greve estar me atrapalhando bastante, tiro o chapéu para a mobilização dos servidores.

Agora sabe o por que do título desse post? São os percentuais de aumento que teve o salário do prefeito e de seus secretários e assessores contra o aumento oferecido pelos servidores. O prefeito recebia R$8.500,00 e com o aumento de 56% vai ganhar em torno de R$13.600,00, ao passo que o salário de um servidor, que todo mundo tem uma idéia de quanto seja, será reajustado em 3%. Agora me diga se há lógica nisso, se há justiça nisso? Vergonhoso. Os servidores reivindicam 18% de aumento. Se o prefeito, Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio [PDT] tivesse hombridade e defendesse os interesses da cidade, voltaria atrás no aumento que concedeu a si próprio e receberia o mesmo aumento que os servidores solicitam. Mas isso é querer demais de um político brasileiro, não é?

[Digna de nota é a cobertura feita pelos portais de notícias da região na web – Cosmo, CBN e EPTV. Não trazem quase nada sobre a greve. Diria que é no mínimo estranho.]

quarta-feira, 27 de maio de 2009

traço de personalidade

Quando se pensa numa definição do brasileiro, das características que o definem como povo singular, sempre aparecem alegria, festividade, criatividade como traços marcantes. Também é comum ouvir que o brasileiro recebe bem os visitantes, é cordial. Não sou sociólogo nem antropólogo, muito menos psicólogo. Mas sou observador. Acho que há muito tempo o homem cordial tal qual descrito por Sérgio Buarque de Hollanda em Raízes do Brasil [leia uma sinopse] não existe mais, ou pelo menos não resume nossas qualidades essenciais.

Experimente chamar a atenção de alguém que para o carro sobre a faixa de pedestres. Ou de alguém que estaciona o carro indevidamente numa vaga reservada a deficientes físicos ou idosos. Tente reclamar de alguém que fecha o cruzamento. Reclame de alguém que fura a fila. Mostre-se incomodado com alguém que lhe toma a frente na banca de jornais. Mostre que alguém está errado ou peça pra que repare o erro pra ouvir palavrões acompanhados de gestos te mandando pra todos os lugares possíveis. O brasileiro nunca está errado, não gosta que lhe chamem a atenção, não sabe pedir desculpas, não reconhece que está errado e nunca volta atrás para corrigir o erro. Dá pra sintetizar isso numa palavra? Arrogância? Impertinência? Petulância? Não sei.

Cansei de ver gente estacionando em vagas reservadas e não me continha. Perguntava qual era a deficiência do motorista que saía lépido do carro. Ou fazia algum comentário sobre como a pessoa não aparentava a idade que tinha, como estava conservada. Pergunto se não têm vergonha de fazer algo errado. E como resposta ouvi todos os tipos de impropérios possíveis. As pessoas fazem coisas erradas conscientes disso. Se prejudicam os outros, isso não está em conta. Xingam você como quem diz: ‘estou errado sim e o problema é meu, meta-se com sua vida, isso não é problema seu, tem chato pra tudo mesmo, cuide de sua vida’. Mas não é exatamente o que se está fazendo quando se reclama de uma situação dessas? Cuidando de sua vida através da preservação do bem estar de todos? No final, parece que eu é que estou errado por não tomar conta da minha vida apenas. Nunca vi ninguém pedir desculpas, voltar para o carro e procurar outra vaga. Nunca!

Achar que está sempre certo, não aceitar ser advertido por um igual, não pedir desculpas pelo erro e não voltar atrás são traços de personalidade que vem se sedimentando como definidores do que somos. Acho que todos esses traços poderiam ser congregados em uma única qualidade: ignorância.

terça-feira, 26 de maio de 2009

uma questão de educação

Cena 1: Parado em frente a estante na livraria, passeio com os olhos pelas lombadas dos livros a procura de um titulo que desperte a curiosidade. De repente um braço atravessa entre a estante e meus olhos. Olho pro lado e vejo um cara truculento que aparentemente não me viu ou finge que não me viu.

Cena 2: Carro parado numa travessa aguardando uma brecha no trânsito quando o sinal da transversal fica vermelho e um ônibus fecha o cruzamento. Buzino. O motorista olha pra mim e faz um gesto como quem diz ‘vai-te-catá’.

Cena 3: Sentado a mesa do café aguardo para ser atendido. Os garçons livres insistem em ignorar minha presença. Enquanto espero pela boa vontade de algum deles, três pessoas passam por trás de minha cadeira, esbarrando em mim como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

Cena 4: Esperando na esquina pronto para atravessar na faixa de pedestres. Nenhum carro me dá passagem. Quando têm que parar, param sobre a faixa.

Cena 5: Dentro do elevador que se aproxima do térreo. A porta se abre e as pessoas que estão do lado de fora e querem subir entram antes que eu consiga sair.

Cena 6: Com o pisca ligado você aguarda um carro sair da vaga no estacionamento para estacionar. Vem um carro pelo outro lado e entra na vaga antes de você.

Cena 7: Na quitanda, escolhendo tomates. De repente uma, duas, várias mãos ávidas passando à minha frente como se os tomates fossem acabar naquele instante.

Cena 8: Ao telefone, tentando cancelar um serviço que não quero mais. Não consigo isso sem que tenha que pagar alguma coisa. Você quer falar com o superior. Claro, ele não existe. Me sinto enganado. Não tem jeito, me passam de um atendente a outro sem resolver o problema. É o mesmo que ser roubado.

Cena 9: No estacionamento vejo uma moça por volta de seus trinta anos parando seu carro na vaga para deficientes. Ela desce saltitante. Eu reclamo, chamo sua atenção. Ela me responde com nomes feios.

Cena 10: Na fila esperando ser atendido no caixa. Chegam duas pessoas que fingem não ter visto a fila e se colocam lá na frente. Desisto, vou embora.

Tenho quase certeza que alguma coisa parecida já aconteceu com você. Fico impressionado com a quantidade de vezes em que me deparo com tais situações desagradáveis. São muito freqüentes. As pessoas enxergam apenas seus umbigos, seus interesses, seus problemas. Os outros simplesmente não existem. Afinal, que mal há em jogar um papel de bala pela janela do carro? São só 5 minutos na vaga para deficiente, isso não vai atrapalhar ninguém. A regra é se dar bem, resolver o próprio problema mesmo que atrapalhe, prejudique, faça mal aos outros. O que importa é meu umbigo! Pronto!

Essa falta de educação, essa falta de cortesia, esse individualismo cego está presente em todos os lugares, nas diferentes classes sociais. Claro que não é todo mundo assim. Sim, existe gente educada, cortês, cordial. E isso independe de classe social e nível econômico. Mas minha impressão é que a situação vem se agravando. Vejo mais e mais a falta de educação do que a presença dela. Falta de educação também é falta de atenção com os outros, falta de solidariedade, falta de delicadeza.

Tudo isso pra dizer que entre parar o carro na faixa de pedestre ou na vaga para deficientes e sonegar impostos, entre esbarrar na cadeira de quem está sentado e usar dinheiro público em beneficio próprio, entre furar a fila e entrar num esquema de lavagem de dinheiro, a distância é bem pequena. Todas as vezes que vejo um carro parando em cima da faixa de pedestres ou alguém jogando lixo na rua, lembro dos políticos em Brasília.

Quando penso que tudo isso está se enraizando como parte da cultura brasileira, fico mais perplexo. Fazer a sua parte já não adianta mais. Não sei onde isso vai parar.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

a educação como questão

O PNUD [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o mesmo que mede o IDH dos países, inclusive dos municípios, regiões metropolitanas e estados brasileiros] fez uma pesquisa, que batizou de Brasil ponto a ponto, para saber quais as questões mais importantes, quais as prioridades para as pessoas. Perguntavam mais ou menos isso: o que precisaria ser feito no Brasil para melhorar a sua vida e a vida de todos. A resposta que mais apareceu foi Educação.

Escrevi Educação com letra maiúscula por que minha percepção do país é a mesma. Acho que é a única saída para o Brasil. O que precisamos são de pessoas mais preparadas digo pessoas que saibam não apenas ler e escrever, mas que saibam pensar, ponderar. Preparadas no sentido de saberem o que desejam para suas vidas, de serem capazes de projetar, imaginar o futuro. Preparadas com uma visão crítica da realidade e com capacidade de escolher. Preparadas para compreender o mundo e suas relações complexas, preparadas para dizer sim ou não com consciência.

A Educação é um círculo virtuoso. A dificuldade dar a partida nesse ciclo é a falta de ressonância entre todos os seus elos. Num país pobre e deseducado como o nosso, deve começar na escola e deve ter o apoio da família. Eis a primeira dificuldade. Como cobrar apoio da família que não teve educação? É aí que o círculo virtuoso se torna vicioso e nunca se fecha.

Problema estrutural para o país e difícil de solucionar deveria ser o principal projeto de qualquer governo de país com pretensões como tem o Brasil. Deveria ter investimentos massivos. Mas não é o que se vê.

Com Educação, dá-se a partida para resolver problemas de saúde, saneamento básico, moradia, transporte, segurança, violência e todos os outros problemas que, com pessoas esclarecidas, é possível resolver.

Do outro lado dessa moeda estão os menos de 10% da população que ganha mais de 20 salários mínimos que, ao contrário do que seria esperado, vive dando demonstrações de idêntica falta de educação. Não adianta ir pra escola particular e cara para se considerar educado. Também não sabemos escolher, não sabemos projetar nossas vidas. A violência está em cada um de nós, em nossa falta de cortesia e cordialidade. Nossa grande falta de educação não nos permite ver além de nosso próprio umbigo.

É bom saber que grande parte dos brasileiros acha que a Educação é a grande questão do país. Resta saber o que fazer com essa informação. Voltando à pesquisa, seus resultados serão usados para escolher o tema do próximo relatório de desenvolvimento humano. Uma das melhores respostas foi que é preciso mudar o brasileiro antes de mudar o Brasil: “Não é o Brasil que tem que mudar e sim quem o governa e as pessoas que o habitam. Se todos pensassem mais e fizessem menos besteiras, as coisas não estariam onde estão”.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

mankind is no island

Adoro curtas. Entre o final dos anos 80 e o inicio dos 90 trabalhei com produção de vídeo e fiz alguns documentários curtos. Agora encontrei algo sobre o Tropfest, um festival de curtas que acontece na Austrália e em Nova Iorque. Alguns curtas do festival podem ser vistos aqui.
O vencedor do Tropfest NY em 2008 foi Mankind is no island, do diretor Jason van Genderen. Foi totalmente feito com a câmera do celular e custou aproximadamente 40 dólares! . O australiano Jason é um dos criadores da agência Tree House Creative.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Campinas e o modelo de cidade

Transcrevi o texto de Laymert no post passado porque me parece que Campinas tem São Paulo como modelo de cidade. Claro que não é uma escolha consciente da cidade, de seus dirigentes em tomar um modelo equivocado para seguir. Pior que isso, é uma atitude inconsciente, pois que está entranhada como parte de nossa cultura.

Nasci em São Paulo e mudei para Campinas quando tinha 12 anos, com meus pais. Fomos morar na área rural da cidade e posso dizer que só fui conhecer a cidade de fato 12 anos depois, quando entrei na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Puc de Campinas. De São Paulo, além das memórias de infância, tive a experiência de freqüentá-la uma vez por semana dos 15 aos 18, quando ia a Rua 25 de Março comprar camisetas para serigrafar. Depois de concluir o curso de arquitetura, morei 2 anos em São Paulo, trabalhando com produção de vídeo. Mais tarde, entre 2002 e 2006, durante o doutorado, tinha que ir a São Paulo 2 vezes por semana.

Hoje percebo que Campinas também é uma cidade arruinada mas que não pode ser reconstruída, porque a aura da cidade já não existe, é uma impossibilidade.
Os privilegiados se encastelaram em condomínios e se refugiam em espaços fechados, evitam a cidade a todo o custo. O resto, como diz Laymert, os trabalhadores, desaparecem no deslocamento entre casa e trabalho. E os miseráveis são fantasmas que ninguém quer ver.

Escolhi morar no centro da cidade. Isso foi no ano 2000. Então, eu acreditava que o centro mudaria, seria revitalizado, seria um ponto irradiador de transformações por toda a cidade. Agora, nove anos depois, nada mudou. Ao contrário, piorou.

Campinas não é uma cidade. Dificilmente será uma cidade. Se é que um dia já foi.

terça-feira, 19 de maio de 2009

São Paulo não é mais uma cidade...

...constatação dura de aceitar.

A cidade deixou de ser. Não por ter sido promovida a metrópole; e, recentemente, a metrópole global. A cidade deixou de ser porque os espírito da cidade não habita mais seus moradores. O espírito não está mais lá, esgarçou-se até romper-se com as forças concomitantes e complementares da riqueza e da pobreza que, desenfreadas, tomaram conta do espaço e do tempo, violentando os lugares e as pessoas. São Paulo é a cidade que deixou de ser. Seu espírito se esvaneceu e agora tudo começa a mostrar os sinais da desagregação e da decomposição. Mas ninguém se importa com o que já aconteceu, acontece ou está para acontecer. A agonia da cidade é um efeito colateral que ninguém vê, nem quer ver.

Não é que a metrópole cresceu demais e tornou-se ingovernável. Nem que ela careceu tanto de planejamento urbano que agora tornou-se ‘impossível’. É isso e muito mais. São Paulo explode implodindo, se estilhaça como cidade fundindo num magma caótico cada um dos seus fragmentos. Co-existência de um movimento paradoxal, centrípeto e centrifugo.

Os privilegiados, sentindo na pele os efeitos da desagregação, desertaram, refugiando-se nos bunkers em que se transformaram as casas, os edifícios, os shoppings. Foi tudo quase imperceptível, talvez porque estendeu-se ao longo de duas décadas. Primeiro a elite abandonou a rua, trocando-a pelos espaços fechados; depois, abriu mão do urbano e da urbanidade: enquanto alguns se transferiam para Miami, os que ficaram trancaram os automóveis, para não falar dos blindados que estão se ‘democratizando’ e chegando à classe média. Agora, com a saturação do tráfego, a pane dos serviços, a escalada da criminalidade, o assédio dos miseráveis, a proliferação das máfias e a corrupção e a falência do poder municipal, a elite parece ter desistido da cidade mesma. São Paulo só é metrópole do capitalismo global nas redes cibernéticas, nos restaurantes e boutiques de luxo, nas pequenas ilhas de afluência guardadas por cães, seguranças e toda uma arquitetura de campo de concentração que protege seus felizes prisioneiros. O resto é o que ninguém quer ver e todos se esforçam por ignorar.

A própria avenida Paulista, espelho e cartão postal do empreendedor moderno, além de coração financeiro do país, não escapa do processo. Quando o Estado de São Paulo ‘acordou’, assustado com sua provável transformação numa nova Avenida São João, já era tarde demais. Os bem-pensantes acham que os camelôs poluem a avenida e querem enxotá-los dali. Mas quem se indigna contra a tenda de plástico que direção do MASP instalou no vão, obstruindo precisamente a vista da cidade? Ou contra as barraquinhas dos antiquários armadas aos domingos? Quem se incomoda com a transformação do próprio museu (o que há de melhor em termos de arquitetura na cidade) num cabide onde se pendura todo o lixo iconográfico da empresas? A elite paulistana desistiu de São Paulo e passou a conceber o espaço urbano como um terreno baldio, onde pendura as mensagens e imagens que quer vender para ‘os outros’. É só ver sua volúpia para emporcalhar a avenida Paulista e os pontos ‘nobres’ com suas faixas, cartazes, outdoors, displays eletrônicos e toda a parafernália kitsch que amontoa, sobre os trapos e restos dos miseráveis, o lixo dos sonhos de consumo.

No espaço urbano agonizante a elite projeta e constrói, com imagens, a sua cidade – que é tão ou mais miserável quanto aquela que pretende ignorar. O resultado exibe obscenidade, vulgaridade, truculência por meio das quais uma classe dirigente impõe, sobre a realidade, a realidade da imagem. O resultado é esse acordo-desacordo da força virtual do mercado com a violência atual da miséria.

Em São Paulo, os que estão por cima ou não aparecem ou o fazem através das imagens. Os que estão por baixo ocupam o chão: embaixo, atrás, dentro das mensagens e imagens ‘do outro mundo’. São seres concretos, tangíveis, tridimensionais, de carne e osso – seres vivos. Mas porque habitam a cidade como não-pessoas, isto é, ‘sujeitos monetários sem dinheiro’, para usar a expressão de Robert Kurz, surgem como presenças quase irreais, às vezes surreais, em todo o caso sempre inadequadas e inoportunas, presenças excessivas, insistentes, que o olhar não quer reconhecer nem aceitar, presenças imprevistas que a mente procura abolir ou evitar. Não se pense, porem, que a cidade é deles; muito ao contrário. Embora nela vivam, aí estão como excluídos e por isso parecem tão deslocados, tão sós, tão fantasmagóricos. Como se o imenso desejo de eliminá-los da paisagem urbana colasse em sua humanidade, marcando-os ao mesmo tempo com os signos indeléveis da diferença e da indiferença que lhes confere um aspecto ora patético ora desesperado, ora absurdo, ora alucinado.

Entre os que deserdaram e os que foram deserdados, nem privilegiados nem excluídos, passam pela cidade, anônimos e desenraizados, os trabalhadores que compõem a massa urbana. Para eles a cidade parece reduzir-se ao longo e cansativo trajeto de casa ao trabalho, ao tempo perdido do transporte. Da periferia ao centro, do centro à periferia: o espaço urbano é o que se inscreve entre dois pontos, cujo sentido ameaçador será dado pelos programas de rádio e pelos telejornais sensacionalistas. Que vínculos podem eles tecer como uma cidade temida e evitada sempre que possível?

Desertada, deserdada, evitada, a cidade deixou de ser. São Paulo, ‘ruínas do presente’? A expressão é dela e serena demais para designar um furor destrutivo, cuja força se faz sentir mesmo quando o recalcamos e queremos nos iludir com as improváveis chances de uma redenção. São Paulo não é uma cidade em ruínas, pois uma cidade em ruínas sempre pode ser reconstruída. Aqui estão sendo destroçados o conceito e a possibilidade mesma de cidade.

São Paulo é a morte da aura da cidade.

[Este texto foi escrito por Laymert Garcia dos Santos em 2000, para Paolo Gasparini, fotógrafo ítalo-venezuelano. Publicado em Cidade e Cultura, Vera Pallamin (org.), São Paulo, Estação Liberdade, 2002]

segunda-feira, 18 de maio de 2009

2009 – ano do céu

Você sabia que 2009 é o ano do céu? Pois é. Descobri isso na exposição do Santos Dumont, organizada pelo Guto Lacaz. Vale a pena dar uma olhada no catálogo da exposição no site do artista.

Em 2009 comemora-se:
400 anos do telescópio de Galileu Galilei – Ano Internacional da Astronomia
300 anos da invenção do balão por Batholomeu de Gusmão
100 anos do nº 20 Demoiselle
40 anos do pouso na Lua

Preciso ressaltar que a realização da exposição em Campinas é uma exceção. Não é comum que a cidade apresente eventos desse nível. A exposição não é grande, mas é muito bem montada, didática, interativa. De tão incomum, estava vazia em pleno sábado à tarde.

novos da natação

O Pan do Rio foi realmente uma falácia. A tão propalada infraestrutura que serviria à população e à popularização do esporte ainda não aconteceu e tenho dúvidas de que acontece algum dia. Enquanto isso, o Clube Pinheiros vem se firmando como centro de excelência na natação, celeiro de nadadores de alto nível.

musas do atletismo

Enquanto Maureen Maggi voa sobre a caixa de areia, Fabiana Murer continua tendo problemas com suas varas. Parece que as varas a têm assustado. Não consegue se ajustar a elas, a empunhadura, a dureza, a flexibilidade, o tamaho. Talvez as muitas opções estejam confundindo a atleta. Quem sabe trocar de modalidade resolva. Ao invés de segurar a vara para saltar, apenas tentar passar sobre ela sem tocá-la no salto em altura.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

As 5 coisas que eu levaria se fosse ficar 10 anos em uma pequena ilha do Pacífico

um canivete suíço do modelo mais completo que inclui até caneta
uma capa impermeável com capuz
um caderno brochura de 1000 folhas sem pauta

um cão

uma bola de vôlei Wilson

quinta-feira, 14 de maio de 2009

tertúlia virtual de maio

Se eu soubesse que teria que passar 10 anos numa pequena ilha do Pacífico e pudesse levar 5 coisas [ou pessoas] apenas, o que [ou quem] eu levaria? Hum, boa pergunta...
Amanhã, 15/05, a resposta.

Tropa de Elite

Na esteira dos filmes que assisti anteriormente [Linha de Passe e Blindness], vi Tropa de Elite [José Padilha, 2007, diretor de Onibus 174]. O filme é bem feito, a trama bem montada, mas, confesso que não gostei do filme [veja trailer]. Não gostei do personagem Capitão Nascimento, Wagner Moura não me convence, me parece muito mais preparado do que nossos policiais. Se bem que meu conhecimento sobre a polícia e policiais é bem pequeno e vai continuar assim, se depender de mim. Talvez o problema tenha sido na montagem, uma vez que um dos roteiristas declara que Nascimento não era o personagem central do filme e isso só ocorreu na montagem. Ele não revela quem seria o protagonista antes das mudanças.

O personagem mais marcante é Matias. Ele está entre os três universos que o filme mostra: a polícia, a comunidade da favela e a classe média alta remediada. Matias quer ser policial ao mesmo tempo em que conhece a realidade do morro e assim, almeja fazer um curso superior, quer mais da vida. Ele está encurralado entre esses três vetores.

Tropa de Elite mostra a realidade do Rio de Janeiro, que está em guerra há muitos anos. Não acho que São Paulo seja diferente, basta ver o número de chacinas que ocorrem na região metropolitana o que indica que há milícias espalhadas por toda a periferia. Essa realidade violenta incomoda, claro. Mata-se sem dó nem piedade, mata-se, mata-se a torto e a direita. Mas vê-la no filme, de certo modo caricaturada incomoda mais ainda. Outra coisa que incomoda é essa militarização da policia. Um atraso em todos os sentidos. Não acho que haja certos e errados nessa história, nem que o filme defenda isso ou aquilo. Há apenas perdedores. Todos perdemos com o tráfico de drogas e armas, todos perdemos por termos uma policia violenta, todos perdemos por termos os espaços públicos sitiados, todos perdemos por que nossa classe média não tem consciência do que faz.

Se há um mérito no filme é justamente mostrar que a classes média e alta alimentam essa guerra. As classes média e alta continuam a dizer ‘isso não é comigo’.

Fato interessante é que o filme foi pirateado e se espalhou por todos os lugares antes do lançamento oficial. Então o filme entrou no círculo que denuncia, na onda do trafico, do crime da pirataria.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

stop motion – Oren Lavie

Stop motion é uma técnica de animação sensacional. Os resultados são fascinantes [veja aqui um handbook de stop motion]. Uma das animações mais bonitas que já vi foi feita para Her Morning Elegance, música de Oren Lavie. Talvez a música ajude a achar a animação ainda mais bonita, não sei...

Her Morning Elegance / Oren Lavie

terça-feira, 12 de maio de 2009

poluição urbana

[clique na imagem para ver mais trabalhos do mesmo autor GZUS]

São chocantes os níveis de poluição em nossas cidades. Falo de todas as cidades e de todas as poluições: atmosférica, sonora, visual, residual. Não que eu tenha medidas sobre o impacto da poluição, mas visualmente, só no olhar, dá pra saber que está demais, muito acima do aceitável. Pelo menos do meu aceitável. E há muito tempo. Tudo bem, deve haver exceções, cidades mais cuidadas e outras menos, mas, é preciso generalizar para levantar alguns pontos comuns.

Não é possível que uma cidade seja bonita se sua infra-estrutura é precária, de má qualidade, que se desfaz, entorta, despedaça, fica faltando pedaço. Uma calçada esburacada é bonita? Não pode ser porque além do visual degradado confessa que não cumpre sua função primordial, permitir o fluxo de pessoas de forma eficiente e segura. Se a função não se cumpre, não pode ser bonito. Não se trata de levantar a velha discussão sobre forma e função, qual teria precedência sobre a outra. Na verdade, andam juntas, devem estar presentes como par indissociável.

Não é possível que uma cidade seja bonita se não se pode apreciar seus objetos, seus espaços, suas arquitetura. São tantos fios, postes, placas, letreiros, propagandas, são tantas informações e objetos se sobrepondo uns em frente aos outros que fica impossível enxergar a matéria de que é feita. E essa matéria apresenta o desgaste do tempo, acinzentada pelos gases emitidos pelos milhares de veículos que trafegam pelas ruas todos os dias.

Não é possível que uma cidade seja bonita permitindo a formação de ilhas tão diferentes entre si e que se negam insistentemente. Uma cidade sem planejamento não pode ser bonita.

Não é possível que os níveis de ruído sejam tão elevados em nossas cidades. É o barulho de ônibus mal cuidados e velhos, de carros com motores preparados, de motos que berram, caminhões com caçambas soltas e motores enormes e ruidosos. Pior que tudo isso é permitir a circulação de carros de propaganda anunciando em altíssimo volume coisas que não queremos escutar nem que nos paguem.

Além disso tudo, há a sujeira. Sujeira jogada nas calcadas pelos transeuntes, pelos motoristas e passageiros dos veículos, sujeira que transborda dos sacos de lixo deixados na calçada. Os mesmos sacos que são abertos por pessoas em busca de qualquer riqueza que lhes amenize a dor, da fome, da miséria, do fundo do poço. Pior de tudo são as pichações que danificam edifícios e emporcalham tudo.

Haveria solução para as poluições urbanas? Sim. Mas seria preciso investir recursos, tempo, dinheiro. Seria preciso pessoas dedicadas ao projeto de remodelar as cidades, de reeducar as pessoas. O grande problema, a meu ver, é que o atual estado das coisas está enraizado como parte de nossa cultura. Temos apenas essa imagem de cidade como modelo, parece que sempre foi assim, que é assim, torna-se natural. Quebrar esse círculo será a tarefa mais árdua em qualquer projeto de revitalização urbana. [De tempos em tempos surgem iniciativas aqui e ali. São Paulo deu alguns exemplos que poderiam ser seguidos por outras cidades com a Lei Cidade Limpa e com o rodízio de automóveis. Mas frente a complexidade e dimensão da metrópole as iniciativas parecem ainda insuficientes.]

Para resolver é preciso investir energia, é preciso ter vontade de mudar. Mas isso parece que anda em falta por estas bandas.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

pandemia viral

[vírus influenza A H1N1]
Logo que ouvi as primeiras notícias sobre uma possível pandemia da gripe suína, achei que havia exagero. Agora, contudo, me parece que foi acertado o alerta da OMS para os riscos eminentes de pandemia. O número de casos vem crescendo dia a dia. Se há uma diferença entre a gripe espanhola e a gripe suína [subtipos do vírus Influenza A] é o poder dos meios de comunicação. Graças à comunicação global on line foi possível tomar medidas de precaução em diversas partes do mundo. Por outro lado, os deslocamentos hoje são mais intensos e extensos e, portanto, os riscos do vírus migrar rapidamente por diversas partes do globo é muito maior. Como diz o ditado, é melhor prevenir do que remediar.

Como não sou da área de saúde, não me considero em condições de tratar mais profundamente do assunto. Como não sou jornalista, também não tenho elementos para tratar do assunto como notícia. É possível acompanhar as notícias atualizadas aqui, aqui e aqui, entre outros sites. Há até um mapa da evolução dos casos pelo mundo. Acho que nem é o propósito aqui. Agora, comentar sobre algumas questões, isso é possível.

Parece que o que torna o vírus influenza A (H1N1) motivo de grande preocupação é o fato de ser uma combinação entre vírus da gripe suína, aviária e humana. A gripe sazonal mata quase meio milhão de pessoas por ano [não é um numero impressionante?] e pessoas infectadas com o vírus da gripe estariam mais propensas, com menos defesas, a serem contaminadas pelo vírus H1N1, causador da gripe suína. Há uma preocupação maior com os paises do hemisfério sul, uma vez que o inverno se aproxima nessa região. Também há a preocupação que esse vírus se recombine com o vírus H5N1, da gripe aviária, que teve um surto em 2005.

Em 2003 a OMS temeu que houvesse uma pandemia de SARS [Síndrome Respiratória Aguda Grave]. Contudo o surto foi controlado, apesar da demora do governo chinês, marco zero da epidemia, em comunicar o fato ao mundo. Assim mesmo, matou 774 pessoas em 11 países. Uma das diferenças entre as duas gripes é que um dos sintomas da SARS era febre, ao passo que na gripe suína a pessoa infectada pode não apresentar febre como sintoma, dificultando o diagnostico. Até o momento, houve mortes apenas na América do Norte [México, Canadá e EUA] e uma morte na Costa Rica. Um caso alarmante aconteceu no Canadá, um homem passou o vírus para 220 porcos.

O efeito mais perverso do vírus A (H1N1) é sem dúvida o tratamento dispensado aos mexicanos. Se 90 anos atrás, a pandemia de influenza A ficou conhecida como gripe espanhola, ouve quem aventasse a possibilidade de chamar o atual surto de gripe mexicana. Logo, a OMS tratou de batizar a atual gripe com o nome técnico do vírus, incapaz de criar estigmas sociais ou atritos diplomáticos, totalmente desnecessários. Entretanto, há notícias de que na China pessoas em contato com mexicanos em hotéis foram confinadas, assim como passageiros de aviões vindos do México. Até dentro do próprio México, casos de discrimininação começam a acontecer. Moradores da Cidade do México, considerada marco zero da disseminação do vírus, começam a ser atacados por seus compatriotas quando em trânsito por outras regiões do país.

Preconceito e doença formam par bastante perigoso, incorrendo em situações de constrangimento e estigmatização [ver Blindness]. Basta ver o que se fazia com leprosos ou, mais recentemente, com os portadores do vírus HIV, causador da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida [AIDS]. A pandemia da Aids, essa sim, foi grave, talvez a mais grave em tempos recentes. Um de seus efeitos colaterais mais graves e que ainda hoje repercute, é o preconceito que desemboca na questão da sexualidade. Não me parece possível se repetir nem a extensão da pandemia muito menos os preconceitos por causa de, em última instância, um vírus de gripe.

A projeção da OMS era que a pandemia poderia atingir 2 bilhões de pessoas, 1/3 da população mundial. Com a gripe aviária, as projeções eram de infecção de 150 milhões e depois 2,4 milhões e por fim o número de casos foi bem baixo. Mas, repetindo, é melhor prevenir do que remediar.

Por fim, há que se lembrar que, no Brasil, a mortalidade por doenças das vias respiratórias é bastante alta. Há dois casos alarmantes, relacionados às doenças das vias respiratórias que deveriam ser tratados por toda a sociedade, como pandemias, como casos virais. Um é o cigarro. O cigarro mata. E muito! Digo isso por que sei do que escapei. Sou ex-fumante, fumei por 19 anos e parei a 9 anos. Digo que estava cavando minha própria cova. E o contágio se da via propaganda massiva pelos meios de comunicação. E o pior é que os fumantes não sabem o que estão ingerindo. O governador de São Paulo, José Serra, finalmente sancionou a lei antifumo. Outros estados já têm suas leis. Países pelo mundo todo aplicam restrições ao fumo. Já chegou tarde por aqui. O outro é a poluição do ar. O contágio se dá alimentado pelas indústrias automobilísticas que fazem forte lobby para se manterem produtivas e pela ausência de programas efetivos de transportes públicos eficientes.
De qualquer modo, a pandemia do vírus A H1N1 está longe de achar seu termo. Encontrei uma fonte de informação interessante sobre o assunto, o site gripe do porco. Muita informação e um pouco de diversão pra relaxar. Vale a pena.

sábado, 9 de maio de 2009

o castelo e a lixa

Não bastasse termos que aguentar deputado-que-enriqueceu-ilicitamente-sonegador-de-impostos-dono-de-castelo [Edmar Moreira, veja a ficha do deputado no site da câmara, veja cobertura da Folha sobre ele], agora temos que agüentar deputado que está se lixando para a opinião pública [Sergio Moraes, veja ficha do deputado no site da câmara]. O único detalhe é que o tal que está se lixando é relator do Conselho de Ética mas não tem nem idéia do que isso signifique. Afirmou que Edmar Moreira não fez nada de errado. Como é que é, seu relator? Edmar Moreira já sabe que nada acontecerá, afinal, os deputados defendem uns aos outros.

Agora, cá pra nós, quem foi que indicou esse cara como relator do Conselho de Ética? Aliás, como esse cara faz parte do Conselho de Ética? Mais ainda, que Conselho de Ética é esse? De que Ética? Eles sabem o que é Ética? No final, é mais um esperto que se dá bem e ainda por cima com a defesa dos colegas deputados.

Queria saber quem esses caras pensam que são? É muito descaso com eleitores, pagadores de impostos, trabalhadores, cidadãos que tentam, a todo o custo, viver dignamente apesar desses caras em Brasília sobre nossas cabeças. Será que eles sabem que a câmara dos deputados representa a nós, brasileiros? Enquanto políticos se lixam pra nós achando que trabalham em causa própria e que dinheiro público, nosso dinheiro, é pra farra deles, fica difícil acreditar que esse país vai melhorar, vai mudar. Vai mudar o que? Pra quem?

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Blindness [Ensaio sobre a cegueira]

Pra não perder o embalo, assisti a outro filme recentemente.
Há tempos não via um filme tão perturbador, imageticamente perturbador. Filme de Fernando Meirelles [arquiteto que se tornou cineasta], que já havia impressionado com Cidade de Deus [Meirelles fez outros bons filmes como Domésticas e O Jardineiro Fiel], Blindness é baseado no livro de José Saramago [Saramago tem um blog (!), chamado Caderno (link ai ao lado)], de quem também li A Jangada de Pedra, considerado menor embora, para mim, não menos perturbador [não vi a adaptação para o cinema, que recebeu críticas negativas]. Mais que o tema, as imagens perturbam. Não só os sentimentos, mas a visão é perturbada por todo o tipo de ruído na imagem. Isto é linguagem cinematográfica levada às últimas conseqüências. Quem vê o filme precisa ver também o making of. A feitura do filme é espetacular, da preparação de atores a escolha das locações, da fotografia aos efeitos especiais.

As cenas urbanas que mostram a devastação das cidades, a degradação disso que é a maior realização humana em sociedade, um fenômeno de milhares de anos espalhado por todo o planeta, são de arrepiar. Interessante que a cidade do filme é nenhuma cidade particular. Parece que foi uma exigência de Saramago. Então Fernando Meirelles embaralhou São Paulo, Toronto e Montevidéu e o resultado é surpreendente.

O tema perturba porque postula que na falta, na ausência de um sentido tão importante como a visão, as pessoas reinventam a comunicação e, principalmente, o modo de viver em conjunto, em sociedade. Em meio ao caos, as pessoas descobrem que dependem umas das outras e precisam, mais que tudo, confiar. Um filme que merece ser visto porque faz pensar.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Linha de Passe: o filme

[Walter Salles, Vinicius de Oliveira (Dario) e Kaique de Jesus Santos (Reginaldo) durante as filmagens]

Recentemente assisti ao filme Linha de Passe [2008], de Walter Salles. Um belo filme, como boa parte dos filmes que fez – me refiro aos que assisti: Terra Estrangeira [1995], Central do Brasil [1998], Diários de motocicleta [2004]. O filme foi premiado no Festival de Cannes com a Palma de Ouro de melhor atriz para Sandra Corveloni. É um filme duro, difícil, porque retrata a realidade quase sem poesia, nua, crua, rude. Segue a linha dos filmes de Truffaut e de outros da Nouvelle Vague, que usam recursos documentais na construção da ficção, para reforçar a representação da realidade. Mostra de maneira bastante isenta, como a desigualdade social esmaga, achata, violenta e empurra as pessoas para baixo, para o lado, para a margem. Mostra a impenetrabilidade de São Paulo, sua impermeabilidade, sua dureza. É um filme difícil de ver porque escancara aquilo que vemos todos os dias pelas ruas das cidades do Brasil. Só que vemos tudo isso sem nome, sem endereço, sem história.

Uma frase de Samuel Wainer, contada em uma passagem de O afeto que se encerra, de Paulo Francis, resume bem a realidade do país retratada em Linha de Passe, assim como em outros filmes brasileiros: “Eles querem tão pouco e lhes negamos”.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

elite

Não existe elite no Brasil. Segundo José Pereira Coutinho [FSP, Mais!, 4 setembro 2005], o que há é uma antielite. A autodenominada elite brasileira é obscena, de mau gosto e mal educada. Porque ostenta humilhando, passando por cima, esmagando, achatando todo o “resto” que a rodeia.

Platão, o primeiro a refletir sobre o caráter das comunidades e o papel da elite, disse que a comunidade justa é aquela em que os melhores se dedicam a pensar e fazer o melhor para todos. Os melhores abdicam de seus interesses particulares em favor da comunidade. Isso não existe no Brasil. Os poucos mais privilegiados, os poucos mais endinheirados, os poucos que têm mais educação não se dedicam ao país, não querem compartilhar com todos os recursos que têm em beneficio da construção de algo melhor, mais justo e mais digno para todos.

Quando penso nisso e apenas para dar um exemplo do que faz uma elite, sempre lembro das universidades americanas ou das instituições culturais como museus, orquestras, bibliotecas. É impressionante como recebem doações de seus ex-alunos que prosperam na vida, que enriquecem a partir dos conhecimentos recebidos na universidade em que estudaram. É comum ver listas de nomes em paredes pelos campi dos EUA, nomes de pessoas que contribuem para a construção de laboratórios, salas de aulas, compra de equipamentos, financiamento de pesquisas. Não conheço um caso de ex-aluno da Unicamp, por exemplo, que tendo prosperado em sua profissão, tenha ‘dado’ de volta alguma coisa para a universidade.

Não há elite no Brasil. Veja o que diz Coutinho, dificil discordar dele. “É preciso refazer a tese: o problema do Brasil não está nas suas elites porque, ironicamente, o Brasil não tem elites. Tem antielites, incapazes de pensar o país como espaço comum. Ou, adaptando a linguagem teórica para a realidade prática, o Brasil tem uma falsa elite que, em matéria política, prefere colocar os interesses particulares e partidários à frente dos interesses do país. O preço a pagar é inevitável: quando o dever cívico se destrói, destrói-se a confiança e o futuro do Brasil”.

Esse quadro é histórico. Foi sempre assim. E será sempre. É endógeno. Faz parte do nosso caráter. Ou da falta dele.

[Obs.: o link para a Wikipedia é na língua inglesa porque o verbete está mais completo]

novo endereço

Agora este blog que vos escreve, o penso, logo...escrevo, está nesse endereço aí de cima, que transcrevo: http://octaviolacombe.blogspot.com/

O outro ficou difícil de guardar [lembrar] até pra mim, mas vai continuar no ar por enquanto [http://pensamentares.blogspot.com/]. Esse fica mais fácil. Perdi algumas informações na mudança, como os comentários, que tive que importar manualmente e o cadastro das pessoas no quem me acompanha [os seguidores, expressão que não me agrada muito, mas são coisas do blogger, fazer o que].

Peço desculpas a todos pelo contratempo. Aproveito pra agradecer os comentários recebidos. Abraços.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Obama – Os primeiros 100 dias [delivering on change]

[clique na imagem acima para a acessar o album oficial da Casa Branca no Flickr]
É impressionante a consciência que Barack Obama tem do poder dos meios de comunicação. Usa-os com maestria. Agora, depois de 100 dias de governo, lança um álbum de 300 fotos desses primeiros dias de governo. A idéia é poderosa. As fotos são de ótima qualidade. Não tenho nada especialmente a favor de Obama como presidente dos EUA, mas que ele é infinitas vezes melhor que o presidente anterior, é inegável.

Entretanto, gosto do fato dele ser um homem de comunicação, devido a essa consciência que tem. Sabe falar, se portar, comportar. O corpo fala, os gestos falam. Usa os meios eletrônicos para divulgar seu governo. É sereno, articulado, culto, inteligente, digno. Acima de tudo, representa bastante bem o país que governa [afinal, presidentes não representam apenas a vontade da maioria que nele votou, mas representa todos os cidadãos e para eles deve governar, ou seja é a representação do país]. Parece um bom homem com intenções melhores ainda. Demonstra estar preocupado com a gente de seu país e com a gente do mundo todo.

Das coisas que fez até agora, a definição de datas para sair do Iraque e para encerrar o campo de Guantánamo [ordem assinada em 22 de janeiro determinando o fechamento dentro de um ano], me parecem dignas de um homem que quer de fato mudar as coisas.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

desigualdades irreconciliáveis 2

Difícil aceitar que o Brasil é um país pobre. Com tanta riqueza concentrada nas mãos de cerca de 6% da população [segundo dados do IBGE, apenas 6% da população no Brasil ganha mais de 20 salários mínimos], poderíamos dizer que o Brasil é um rico país de pobres. Muitos pobres.

Ando pelas ruas e muitos são os indicadores que confirmam minha percepção de que o Brasil é pobre e vai continuar assim. A educação é um desses índices, perceptível sob várias roupagens. O trânsito, nas relações pessoais, no modo de falar das pessoas, a falta de formação básica. A violência é outra, presente nos atos mais prosaicos do cotidiano da cidade. E mais, o barulho, a sujeira, o lixo, a infra-estrutura precária e tantas outras coisas.

Passa por mim um vendaval de sentimentos quando vejo alguém jogar pela janela do carro um papel ou um copo plástico pela janela. Acho um insulto sem tamanho quando um carro para sobre a faixa de pedestre ou não espera a passagem das pessoas a pé numa esquina. Fico entristecido quando vejo meninos pedindo nos sinais ou adultos vendendo balas ou, pior, quando fazem malabarismos para ganhar uns trocados. Literalmente a vida requer malabarismos para garantir a sobrevivência. Fico devastado as favelas e os bairros mais carentes, com ruas de terra, sem saneamento adequado, sem recursos como escola, transporte, posto de saúde. Tenho vontade de morrer quando vejo gente largada pela rua, morando em caixas de papelão, em baixo da ponte, em qualquer buraco no chão, maltrapilhos, sujos e destruídos em sua auto estima.

Sinto-me pior ainda quando percebo que os mais abastados, os mais endinheirados nutrem um desprezo mortal pelos que tem menos. Se estão de carro, querem passar por cima, se estão a pé, fazem de tudo para não se misturar. Se encastelam atrás de muros cada vez mais altos e armados de arames e cercas eletrificadas, guardados por seguranças particulares armados até os dentes. Essas pessoas desenvolvem uma insensibilidade que tem como um dos piores sintomas uma cegueira que não os deixa ver a realidade. Pior de tudo é compreender que a classe mais rica acha natural a maneira como nossa sociedade se organiza. E, é preciso lembrar, apenas 6% da população ganha mais do que vinte salários mínimos. Estão incluídos nessa fatia os ricos, os muito ricos, as grandes fortunas, os milionários, os bilionários. Ou seja, 12 milhões de pessoas, entre os cerca de 200 milhões de brasileiros, ganham mais que R$ 8.000,00 em valores de hoje. País de contrastes? De diferenças? Não! País injusto feito de desigualdades.

Acho inaceitável que um país que reivindica uma posição entre as maiores e mais poderosas nações do mundo ainda conviva com a miséria e com tais desigualdades. Uma nação que não consegue resolver seus problemas básicos de infra-estrutura, saúde e, principalmente, educação, não pode postular nada. Resolver esses problemas passa pela política que, necessariamente, deve resolver suas próprias anomalias.

À medida que o tempo passa e vou envelhecendo, passo a pensar que é quase obsceno, de mau gosto, ter dinheiro no Brasil. Sim, porque parece que o dinheiro, ou melhor, os tais 20 salários mínimos, trazem consigo um comportamento ostentatório, exigem uma postura arrogante, demandam atitudes prepotentes. Enfim, ignorância que revela o despreparo e a falta de formação daqueles que pretendem ser e se auto-intitulam a elite brasileira.

domingo, 3 de maio de 2009

desigualdades irreconciliáveis

Nada perturba mais do que a desigualdade social. Some-se a isto a descrença em qualquer possibilidade de alteração desse quadro, a desigualdade se transforma em situação insuportável.

É comum escutar expressões como “o Brasil é o país dos contrastes” ou “o Brasil é um país feito de diferenças”, expressões que vão sendo tomadas, de tanto serem repetidas, como verdades sobre a essência da condição do país. É difícil concordar com tais afirmações e mais difícil ainda permanecer indiferente a elas. Afirmações como essas tendem a disfarçar os problemas sociais do Brasil, colocando-os atrás de um falso véu de positividade. Contrastes e diferenças podem ser bons e pressupõe complementaridade.

O exemplo mais objetivo talvez advenha da teoria das cores. Cores contrastantes são ditas complementares: vermelho e verde, azul e laranja, amarelo e roxo. Isso sem falar de preto e branco. Na pintura uma das técnicas mais conhecidas é o claro e escuro, em que se explora o contraste entre luz e sombra. Na música, na dança, na arquitetura, os contrastes são explorados com o objetivo de atribuir qualidade à obra ao ampliar as possibilidades de prender a atenção do espectador. Quanto mais inusitado o contraste, maior a atenção do espectador.

O mesmo ocorre com a diferença, que grosso modo, poderia ser sinônimo de contraste por seus efeitos similares. Então, é desejável que a cidade possua zonas diferentes em seu tecido, como a zona residencial, comercial, industrial. É bom que um grupo de pessoas comporte diferenças a fim de enriquecer o relacionamento, seja profissional, de amizade ou outro qualquer. Pensar em diferença tende a conduzir a idéia de diversidade. Diferença, ou diversidade, cultural, de classe, étnica e por aí vai. Diferenças não pressupõem um melhor que o outro, um mais outro menos, não implicam valorações ou escalas de valor, melhor, pior.

Contudo, não acho justo que tais expressões sejam usadas para explicar ou pensar nosso país. Elas mascaram a condição de desigualdade. Pensar em desigualdade pressupõe encarar a realidade tal como ela é, desigual, um melhor outro pior, um mais outro menos. A desigualdade traz em si o injusto. Vejamos exemplos: desigualdade no placar de um jogo; um ganha, outro perde. A divisão desigual de uma barra de chocolate: um mais outro menos.

Portanto, o Brasil é um país de desigualdades. E não são quaisquer desigualdades, mas desigualdades irreconciliáveis. Sim, porque há interesses em mantê-las como estão, bastante desiguais mesmo. Sim, porque tais desigualdades irreconciliáveis são uma condição histórica em nosso país. Apenas para citar um exemplo genérico, basta ver 1808, de Laurentino Gomes. Trata-se de um excelente trabalho jornalístico que demonstra como nada mudou nos últimos 200 anos no Brasil.

Assim, é possível concluir que esse país, nos anos vindouros, no futuro ou, para ser mais realista [ou pessimista] jamais contará com justiça social, nem proverá educação e saúde de qualidade digna para todos, muito menos permitirá uma distribuição de renda menos desigual.

sábado, 2 de maio de 2009

pensando...

A idéia desse blog surgiu com um post feito em 'os trigêmeos'. Era um post indignado com coisas que, acho eu, caracterizam, de certo modo, a cultura brasileira e o próprio país. Uma é a presença do catolicismo e a outra a justiça brasileira, ou a falta dela. A repercussão do que escrevi, da minha posição sobre os dois assuntos, da minha indignação, foi maior do que qualquer outra coisa que eu já tivesse escrito no blog.

Foi essa repercussão que me trouxe a esse blog. Não gostaria de transformar o blog os trigêmeos num espaço em que outros assuntos fossem discutidos senão minha relação com meus filhos e as coisas que faço em torno disso. Ao mesmo tempo, sempre tenho uma opinião sobre tudo, gosto de discutir sobre tudo, pelo prazer do debate, de trocar idéias. E como escrever é uma necessidade...então, nada melhor do que criar um blog para manifestar o que penso sobre as coisas. É isso, vamos seguindo.

[transcrevo abaixo o polêmico post que deu origem a esse blog. E logo a seguir outro post para justificar algumas moderações de comentários feitas por causa da polêmica.]

de ponta cabeça

Desculpem, mas tenho que expressar aqui minha indignação com 2 histórias absurdas e revoltantes. Depois que me tornei pai fiquei mais antenado com os acontecimentos com crianças. E o que vem acontecendo no Brasil é deprimente.

Primeiro a história do menino Sean. Nasceu nos EUA, pai americano, mãe brasileira. Depois de uns anos, a mãe volta com o menino ao Brasil, de férias. As férias vão se alongando e um belo dia o pai fica sabendo pela mãe que eles não vão voltar pra casa. Como? É isso, não voltaram pros EUA, nunca mais. O pai, desesperado, tenta tudo, mas não consegue sequer rever o filho. A mãe se casa de novo no Brasil – sem se divorciar do primeiro marido! – e no parto da filha do segundo casamento, morre. Naturalmente, você pensa, o menino Sean vai ficar com o pai. Nada! O segundo marido, da poderosa família de juristas Lins e Silva, requer a alteração do sobrenome do menino. O que? É isso!

O caso vai a justiça americana, brasileira e permanece sem solução. A justiça brasileira defende que o menino deve ficar com essa família no Brasil mesmo admitindo que a mãe ficou com o menino ilegalmente. Agora virou quase um caso diplomático, com o envolvimento de chanceleres, deputados e até o presidente do Brasil e a chefe da casa civil dos EUA, Hillary Clinton. Agora pergunto, que justiça é essa que defende esse tipo de comportamento? Que valores regem de fato a justiça brasileira?

O segundo caso é o da menina do Recife, de 9 anos que foi abusada e estuprada pelo padrasto e engravidou de gêmeos. O que? É isso! Criou barriga, sentiu enjôo, foi ao medico, descobriu a gravidez. A lei brasileira permite o aborto nesse caso: abuso sexual e risco a saúde de menor. Uma menina! Foi internada num hospital e o arcebispo de Olinda solicitou ao hospital que a liberasse na tentativa de impedir o aborto. Como? É!

Então ela é internada em outro hospital e a equipe médica toma todos os cuidados e realiza os procedimentos necessários para garantir a saúde da menina, física e mental! E o que faz o arcebispo de Olinda, seguindo os cânones da Igreja Católica? Excomunga os médicos e a mãe da menina! Como é que é? Pois é! Segundo a Igreja não se pode tirar uma vida e isso automaticamente leva a excomunhão! Mas é uma menina de 9 anos! Não pode. A menina foi estuprada pelo pai? Não pode. Poderia morrer se levasse a gravidez adiante. Não pode. Poderia ter sérios problemas psicológicos no futuro. Não pode. Como uma criança iria criar outra criança? Não pode.

Não consigo entender. Afinal, onde está a justiça? Será que isso existe no Brasil? Esse país está doente, de pernas pro ar, tudo invertido, todos os valores corrompidos. O que é isso? O país defende o seqüestro de menores? Parece que sim. E a Igreja católica, caduca, - não parece coisa de gente ignorante? – não consegue ter qualquer sensibilidade que ultrapasse seus dogmas pra julgar um caso especifico de violência social e individual?

Há inúmeros estudos que apontam que a religião católica atrapalha o desenvolvimento econômico do país, em contraposição a lógica protestante que alavanca economicamente as sociedades em que se insere com mais força. Então a Igreja está cega, não consegue ver o que acontece atrás dos muros de seus mosteiros e catedrais, onde se encastelam os homens que se acham acima da lei. E, por outro lado, a justiça feita pelos homens está completamente corrompida por interesses individuais e políticos, privilegiando as classes dominantes, legislando para si próprios.

Fui criado na religião católica, mas há muito tempo não acredito na sua visão dogmática do mundo. Tenho vergonha de ser católico, vou pedir pra ser excomungado. Tenho vergonha de ser brasileiro!

polêmica

Nunca imaginei que o post ‘de ponta cabeça’ fosse causar tamanha polêmica. Na verdade tenho um certo talento que talvez na seja pra ser admirado, de criar polêmica. Na verdade gosto de um bom debate, uma discussão saudável sobre temas interessantes pra exercitar a mente.

Em todo o caso, achei interessante ouvir a opinião de quem se pronunciou, de gente amiga e até da família. Bia, não muito afeita a esses debates acalorados, ficou preocupada. Que bom que as pessoas pensam de formas diferentes umas das outras. Que bom que temos liberdade de pensar e dizer o que quisermos. Que bom que existe hoje a tolerância está incluída entres os princípios que norteiam as relações da sociedade, nem todo o politicamente correto é apenas chato. O politicamente é chato principalmente quando é apenas discurso e nada mais.

O Antonio Prata, aliás, meio parente, já que é filho da minha prima Marta, escreveu uma coisa interessante sobre o politicamente correto nesse domingo, dia da mulher. Primeiro ele associa politicamente correto com idéias de esquerda. Acho bastante questionável. E segundo ele diz que não há nada de ousado em ser politicamente incorreto no Brasil porque aqui a realidade já o é. É uma leitura do país que faz sentido.

Umas das leitoras do blog, a Soraya, fez um post bem interessante sobre o post polêmico. Ela é casada com o Ravi, com que eu e a Bia tomamos uma cerveja mas a Soraya estava viajando, então tomamos uma por ela.

De qualquer forma, acho que o blog ‘os trigêmeos’ não é o lugar em que eu gostaria de travar esses debates sobre assuntos polêmicos. Afinal, esse blog é pra falr desses três pequenos e minha vida com eles. Quem sabe eu invento um outro blog pra falar das coisas que penso quando não estou pensando nos trigêmeos! Pode ser uma boa idéia, assunto não ia faltar, garanto.