terça-feira, 26 de maio de 2009

uma questão de educação

Cena 1: Parado em frente a estante na livraria, passeio com os olhos pelas lombadas dos livros a procura de um titulo que desperte a curiosidade. De repente um braço atravessa entre a estante e meus olhos. Olho pro lado e vejo um cara truculento que aparentemente não me viu ou finge que não me viu.

Cena 2: Carro parado numa travessa aguardando uma brecha no trânsito quando o sinal da transversal fica vermelho e um ônibus fecha o cruzamento. Buzino. O motorista olha pra mim e faz um gesto como quem diz ‘vai-te-catá’.

Cena 3: Sentado a mesa do café aguardo para ser atendido. Os garçons livres insistem em ignorar minha presença. Enquanto espero pela boa vontade de algum deles, três pessoas passam por trás de minha cadeira, esbarrando em mim como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

Cena 4: Esperando na esquina pronto para atravessar na faixa de pedestres. Nenhum carro me dá passagem. Quando têm que parar, param sobre a faixa.

Cena 5: Dentro do elevador que se aproxima do térreo. A porta se abre e as pessoas que estão do lado de fora e querem subir entram antes que eu consiga sair.

Cena 6: Com o pisca ligado você aguarda um carro sair da vaga no estacionamento para estacionar. Vem um carro pelo outro lado e entra na vaga antes de você.

Cena 7: Na quitanda, escolhendo tomates. De repente uma, duas, várias mãos ávidas passando à minha frente como se os tomates fossem acabar naquele instante.

Cena 8: Ao telefone, tentando cancelar um serviço que não quero mais. Não consigo isso sem que tenha que pagar alguma coisa. Você quer falar com o superior. Claro, ele não existe. Me sinto enganado. Não tem jeito, me passam de um atendente a outro sem resolver o problema. É o mesmo que ser roubado.

Cena 9: No estacionamento vejo uma moça por volta de seus trinta anos parando seu carro na vaga para deficientes. Ela desce saltitante. Eu reclamo, chamo sua atenção. Ela me responde com nomes feios.

Cena 10: Na fila esperando ser atendido no caixa. Chegam duas pessoas que fingem não ter visto a fila e se colocam lá na frente. Desisto, vou embora.

Tenho quase certeza que alguma coisa parecida já aconteceu com você. Fico impressionado com a quantidade de vezes em que me deparo com tais situações desagradáveis. São muito freqüentes. As pessoas enxergam apenas seus umbigos, seus interesses, seus problemas. Os outros simplesmente não existem. Afinal, que mal há em jogar um papel de bala pela janela do carro? São só 5 minutos na vaga para deficiente, isso não vai atrapalhar ninguém. A regra é se dar bem, resolver o próprio problema mesmo que atrapalhe, prejudique, faça mal aos outros. O que importa é meu umbigo! Pronto!

Essa falta de educação, essa falta de cortesia, esse individualismo cego está presente em todos os lugares, nas diferentes classes sociais. Claro que não é todo mundo assim. Sim, existe gente educada, cortês, cordial. E isso independe de classe social e nível econômico. Mas minha impressão é que a situação vem se agravando. Vejo mais e mais a falta de educação do que a presença dela. Falta de educação também é falta de atenção com os outros, falta de solidariedade, falta de delicadeza.

Tudo isso pra dizer que entre parar o carro na faixa de pedestre ou na vaga para deficientes e sonegar impostos, entre esbarrar na cadeira de quem está sentado e usar dinheiro público em beneficio próprio, entre furar a fila e entrar num esquema de lavagem de dinheiro, a distância é bem pequena. Todas as vezes que vejo um carro parando em cima da faixa de pedestres ou alguém jogando lixo na rua, lembro dos políticos em Brasília.

Quando penso que tudo isso está se enraizando como parte da cultura brasileira, fico mais perplexo. Fazer a sua parte já não adianta mais. Não sei onde isso vai parar.

2 comentários:

Glória disse...

Numa tarde em São Paulo, um conhecido sofreu um acidente num cruzamento perto do parque Ibirapuera, estavam ele e a filha. Foi sério. O carro capotou e ficou com as rodas para cima. Aproximaram-se pessoas (segundo ele na maioria motoboys de capacete). Naturalmente acharam que estavam vindo ajudar. Qual não foi sua terrível surpresa, quando começaram a furta-los ? Numa situação de total incapacidade, desespero, machucados, e as pessoas, pelovão dos vidros quebrados, tirando deles e do carro tudo que conseguiam ? Esse episódio para mim foi o fim ...

Andréa disse...

Octavio, daria para colocar facilmente mais umas 50 cenas nesse seu post... Diariamente somos desrespeitados, aviltados, chamados de "cri-cri" porque queremos somente que cumpram-se as regras, só isso! Será que estamos pedindo demais? É por essas e outras que estamos indo embora. Uma pena, é verdade, mas chega uma hora que não dá pra aguentar. Queremos que nossos filhos sejam educados onde haja gentileza e respeito pelo direito do outro.
Bjs,
Andréa
www.picolecarioca.com.br