Pra não perder o embalo, assisti a outro filme recentemente.
Há tempos não via um filme tão perturbador, imageticamente perturbador. Filme de Fernando Meirelles [arquiteto que se tornou cineasta], que já havia impressionado com Cidade de Deus [Meirelles fez outros bons filmes como Domésticas e O Jardineiro Fiel], Blindness é baseado no livro de José Saramago [Saramago tem um blog (!), chamado Caderno (link ai ao lado)], de quem também li A Jangada de Pedra, considerado menor embora, para mim, não menos perturbador [não vi a adaptação para o cinema, que recebeu críticas negativas]. Mais que o tema, as imagens perturbam. Não só os sentimentos, mas a visão é perturbada por todo o tipo de ruído na imagem. Isto é linguagem cinematográfica levada às últimas conseqüências. Quem vê o filme precisa ver também o making of. A feitura do filme é espetacular, da preparação de atores a escolha das locações, da fotografia aos efeitos especiais.
As cenas urbanas que mostram a devastação das cidades, a degradação disso que é a maior realização humana em sociedade, um fenômeno de milhares de anos espalhado por todo o planeta, são de arrepiar. Interessante que a cidade do filme é nenhuma cidade particular. Parece que foi uma exigência de Saramago. Então Fernando Meirelles embaralhou São Paulo, Toronto e Montevidéu e o resultado é surpreendente.
O tema perturba porque postula que na falta, na ausência de um sentido tão importante como a visão, as pessoas reinventam a comunicação e, principalmente, o modo de viver em conjunto, em sociedade. Em meio ao caos, as pessoas descobrem que dependem umas das outras e precisam, mais que tudo, confiar. Um filme que merece ser visto porque faz pensar.
viajando de hipopótamo
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Super legal receber tantos comentários e saber que tanta gente legal ainda
está ligada aqui no ostrigemeos! Confesso que estava com saudades da
blogosfer...
Há 11 anos
3 comentários:
puxa! eu ainda não vi....ótima dica! vou pegar na locadora assim que der!
O cineasta Fernando Meirelles foi muito corajoso em filmar "Ensaio sobre a Cegueira"... A linguagem de José Saramago é única, extraordinariamente artística. Ninguém consegue filmá-la.
Eu estava apreensiva, e até preocupada. Acompanhava o diário de Fernando no Blog, e ia me contorcendo... E torcendo para ele conseguir um bom resultado, mas sabendo que a escolha havia sido um mega desafio.
Quando, no diário contou que estava em processo de edição, cortando e cortando partes, que estava estressado, cansado e enjoado do filme, que não aguentava mais, me contorci mais e mais também.
A estréia em Ribeirão demorou. Fui para o cinema preocupada, pois já havia lido e ouvido as críticas.
Detalhe: eu amo o livro "Ensaio",
e admiro muito o Fernando, sua inteligência, sua humildade.
Assisti o filme agarrada a bolsa no colo. Tensa. Eu podia perceber os cortes que haviam feito, percebi a pressa, o stress.
Enfim, na minha opinião a estória foi bem contada, e contada por Fernando, alguém muito sensível e obstinado.
Mas Saramago é Saramago, e o livro tem que ser lido.
Glória.
OI Octavio, assim q eu ouvi falar da gravação do Blindness, resolvi comprar o livro e devorei, terminei de lê-lo em estado de choque, fiquei dias em um estado de catatonia literária, tanto que tentei ler outros livros em seguida, mas não conseguia, tive que me restabelecer do Ensaio, falar bastante sobre ele para depois poder ler outro. Qnd aluguei Blindness, pois eu o perdi no cinema (por aqui passou qnd eu fui pro Brasil e no Brasil estreou qnd voltei), estava toda empolgada e adorei, só senti pelos cortes que foram feitos, mas o filme me tirou o fôlego tanto qnt o livro, principalmente pq estava vendo o q tinha imaginado. Uma loucura!
Bom, falei demais. Bjão.
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