Difícil aceitar que o Brasil é um país pobre. Com tanta riqueza concentrada nas mãos de cerca de 6% da população [segundo dados do IBGE, apenas 6% da população no Brasil ganha mais de 20 salários mínimos], poderíamos dizer que o Brasil é um rico país de pobres. Muitos pobres.
Ando pelas ruas e muitos são os indicadores que confirmam minha percepção de que o Brasil é pobre e vai continuar assim. A educação é um desses índices, perceptível sob várias roupagens. O trânsito, nas relações pessoais, no modo de falar das pessoas, a falta de formação básica. A violência é outra, presente nos atos mais prosaicos do cotidiano da cidade. E mais, o barulho, a sujeira, o lixo, a infra-estrutura precária e tantas outras coisas.
Passa por mim um vendaval de sentimentos quando vejo alguém jogar pela janela do carro um papel ou um copo plástico pela janela. Acho um insulto sem tamanho quando um carro para sobre a faixa de pedestre ou não espera a passagem das pessoas a pé numa esquina. Fico entristecido quando vejo meninos pedindo nos sinais ou adultos vendendo balas ou, pior, quando fazem malabarismos para ganhar uns trocados. Literalmente a vida requer malabarismos para garantir a sobrevivência. Fico devastado as favelas e os bairros mais carentes, com ruas de terra, sem saneamento adequado, sem recursos como escola, transporte, posto de saúde. Tenho vontade de morrer quando vejo gente largada pela rua, morando em caixas de papelão, em baixo da ponte, em qualquer buraco no chão, maltrapilhos, sujos e destruídos em sua auto estima.
Sinto-me pior ainda quando percebo que os mais abastados, os mais endinheirados nutrem um desprezo mortal pelos que tem menos. Se estão de carro, querem passar por cima, se estão a pé, fazem de tudo para não se misturar. Se encastelam atrás de muros cada vez mais altos e armados de arames e cercas eletrificadas, guardados por seguranças particulares armados até os dentes. Essas pessoas desenvolvem uma insensibilidade que tem como um dos piores sintomas uma cegueira que não os deixa ver a realidade. Pior de tudo é compreender que a classe mais rica acha natural a maneira como nossa sociedade se organiza. E, é preciso lembrar, apenas 6% da população ganha mais do que vinte salários mínimos. Estão incluídos nessa fatia os ricos, os muito ricos, as grandes fortunas, os milionários, os bilionários. Ou seja, 12 milhões de pessoas, entre os cerca de 200 milhões de brasileiros, ganham mais que R$ 8.000,00 em valores de hoje. País de contrastes? De diferenças? Não! País injusto feito de desigualdades.
Acho inaceitável que um país que reivindica uma posição entre as maiores e mais poderosas nações do mundo ainda conviva com a miséria e com tais desigualdades. Uma nação que não consegue resolver seus problemas básicos de infra-estrutura, saúde e, principalmente, educação, não pode postular nada. Resolver esses problemas passa pela política que, necessariamente, deve resolver suas próprias anomalias.
À medida que o tempo passa e vou envelhecendo, passo a pensar que é quase obsceno, de mau gosto, ter dinheiro no Brasil. Sim, porque parece que o dinheiro, ou melhor, os tais 20 salários mínimos, trazem consigo um comportamento ostentatório, exigem uma postura arrogante, demandam atitudes prepotentes. Enfim, ignorância que revela o despreparo e a falta de formação daqueles que pretendem ser e se auto-intitulam a elite brasileira.
viajando de hipopótamo
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Super legal receber tantos comentários e saber que tanta gente legal ainda
está ligada aqui no ostrigemeos! Confesso que estava com saudades da
blogosfer...
Há 11 anos
Um comentário:
LuLu disse...
E'.. quando comecei a conhecer a realidade de outros paìses, e falo isso sem querer parecer arrogante, pois eu nao conheço NADA, passei a refletir o quanto a disparidade incomoda e é cruel. Os extremos incomodam. Sempre melhor o equilibrio, o caminho do meio, como jà dizia um grande mestre: Buda.
Mas até a "religiao" desse mestre apregoa que a miséria é de alguma maneira necessaria para o equilibrio. Vai entender!?! Eu nao entendo.
4 de Maio de 2009 19:35
Andréa disse...
E os políticos, que deveriam estar completamente focados em extinguir essas injustiças e desigualdades estão mais interessados em fazer as Olimpíadas no Rio de Janeiro! E agora essa história de tornar o Rio um patrimônio da humanidade?? Fala sério! Por que não usam todo esse dinheiro e o esforço pra trazer as Olimpíadas pra cá, em um reforço para melhorar a Educação, o saneamento básico das favelas e tudo o que o país precisa, que com certeza é muito mais do que as Olimpíadas ou um título de Patrimônio da Humanidade podem trazer! Esse país, definitivamente, não é sério...
Beijos indignados,
Andréa
www.picolecarioca.com.br
5 de Maio de 2009 11:57
comentarios importados por Octavio
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