quarta-feira, 27 de maio de 2009

traço de personalidade

Quando se pensa numa definição do brasileiro, das características que o definem como povo singular, sempre aparecem alegria, festividade, criatividade como traços marcantes. Também é comum ouvir que o brasileiro recebe bem os visitantes, é cordial. Não sou sociólogo nem antropólogo, muito menos psicólogo. Mas sou observador. Acho que há muito tempo o homem cordial tal qual descrito por Sérgio Buarque de Hollanda em Raízes do Brasil [leia uma sinopse] não existe mais, ou pelo menos não resume nossas qualidades essenciais.

Experimente chamar a atenção de alguém que para o carro sobre a faixa de pedestres. Ou de alguém que estaciona o carro indevidamente numa vaga reservada a deficientes físicos ou idosos. Tente reclamar de alguém que fecha o cruzamento. Reclame de alguém que fura a fila. Mostre-se incomodado com alguém que lhe toma a frente na banca de jornais. Mostre que alguém está errado ou peça pra que repare o erro pra ouvir palavrões acompanhados de gestos te mandando pra todos os lugares possíveis. O brasileiro nunca está errado, não gosta que lhe chamem a atenção, não sabe pedir desculpas, não reconhece que está errado e nunca volta atrás para corrigir o erro. Dá pra sintetizar isso numa palavra? Arrogância? Impertinência? Petulância? Não sei.

Cansei de ver gente estacionando em vagas reservadas e não me continha. Perguntava qual era a deficiência do motorista que saía lépido do carro. Ou fazia algum comentário sobre como a pessoa não aparentava a idade que tinha, como estava conservada. Pergunto se não têm vergonha de fazer algo errado. E como resposta ouvi todos os tipos de impropérios possíveis. As pessoas fazem coisas erradas conscientes disso. Se prejudicam os outros, isso não está em conta. Xingam você como quem diz: ‘estou errado sim e o problema é meu, meta-se com sua vida, isso não é problema seu, tem chato pra tudo mesmo, cuide de sua vida’. Mas não é exatamente o que se está fazendo quando se reclama de uma situação dessas? Cuidando de sua vida através da preservação do bem estar de todos? No final, parece que eu é que estou errado por não tomar conta da minha vida apenas. Nunca vi ninguém pedir desculpas, voltar para o carro e procurar outra vaga. Nunca!

Achar que está sempre certo, não aceitar ser advertido por um igual, não pedir desculpas pelo erro e não voltar atrás são traços de personalidade que vem se sedimentando como definidores do que somos. Acho que todos esses traços poderiam ser congregados em uma única qualidade: ignorância.

2 comentários:

Glória disse...

Por falar em ignorância...
Outro dia liguei para uma amiga, e a secretária atendeu assim - Inteligência Relacional, bom dia...

E eu pensei... inteligência relacional ? ( what the **** is that ?) o que vem a ser isso ?
Então minha amiga, cujo marido é sociólogo, antropólogo, filósofo e já não sei mais o quê, explicou que ele havia aberto uma empresa que cuida dos relacionamentos dentro de empresas. Como se relacionam colegas, chefes, clientes, etc. Para que haja boa comunicaçào, respeito e harmonia, visando é claro melhor ambiente de trabalho, e consequentemente, maior produtividade = lucro.

Precisamos entào fazer cursos sobre inteligência relacional para aprendermos a conviver uns com os outros ? O resultado é bom após o curso. Fazem muitas vivências e tal. As pessoas param para se enxergar....

Anônimo disse...

Olá...


De fato, sinônimo de brasileiro bonzinho e acolhedor é aquele brasileiro que finge não ver os erros absurdos e a falta de educação dos outros. Também já passei por isso.... pessoas muito saudáveis e jovens ocuparem vagas reservadas para as pessoas especiais e idosos. Outro dia, eu perguntei para uma linda jovem: Quantas plásticas você fez? Ela meu respondeu: Não entendi....
eu disse: a vaga é para idosos....
Sabe octávio, eu tenho carro e carteira de deficiente físico, mas a minha deficiência não me impede de caminhar da vaga à entrada de um shopping ou supermercado, de forma que eu não uso essas vagas, deixo àqueles que têm dificuldade de mobilização. Acho justo isso.
E quando alguém abre o vidro do carro e joga lixo na rua??
Revoltante, mas cansei de perceber que a cada dia as pessoas pioram...são muito egoístas. Cansei disso e, no fim, somos nós mesmos, os mais conscientes, que nos estressamos com a falta de responsabilidade dos outros.
Quem sabe um dia poderemos ter um Brasil mais consciente, desenvolvido e com pessoas mais educadas, né?

abraços.