segunda-feira, 31 de agosto de 2009

a resposta sobre o crime

Enviei email para 4 departamentos da CPFL com o mesmo conteúdo do post feito aqui: para o departamento de ética, para a ouvidoria, para o meio ambiente e para o atendimento ao cliente. Recebi uma resposta por email do atendimento ao cliente [segue abaixo] e um telefonema da ouvidoria, do Sr. Caio.

Os dois falaram de podas, como se fosse esse o problema. O Sr. Caio quis saber o endereço daquela árvore mutilada. Fiquei com medo de fornecer a ele e a árvore desaparecer. Alguém duvida dessa possibilidade?

Passeando pelo site da empresa, fica claro que os programas de cultura, ética e sustentabilidade são feitos apenas para sustentar os próprios objetivos da empresa. São feitos, como se diz, pra inglês ver, pra justificar suas ações e mascarar os despropósitos que comete.

Cada um entende o que quer do que lê, enxerga o que quer, escuta o que quer. Meu post foi bem claro, não é sobre podas. É sobre a atitude da empresa em relação ao meio ambiente urbano. É um apelo para que a empresa assuma sua responsabilidade e encampe um projeto de revitalização urbana que retire a rede aérea da cidade. Volto a dizer, a cidade é toda cultura! Toda a possibilidade de cultura está na cidade. Que o café filosófico seja para todos e se estenda por toda a cidade!

. . .

Sr. Octavio, boa tarde.

Em atenção ao seu e-mail informamos que a CPFL realiza serviços de poda programada, visando manter os condutores de energia livres dos galhos e ramos de árvores que ofereçam risco potencial à rede de distribuição aérea e sem causar danos irreparáveis à vegetação.

Quando há possibilidade de efetuar uma poda programada, é escolhida uma época anterior à renovação da folhagem, a fim de minimizar o desgaste causado nas árvores, além de evitar brotação excessiva. Por esse motivo, o serviço de poda pode ser adiado, obedecendo sempre a urgência da situação.

Ressaltamos que em nosso site há mais informações sobre sustentabilidade e os programas que a empresa exerce, segue o link para facilitar: http://www.cpfl.com.br/Default.aspx?alias=www.cpfl.com.br/sustentabilidade

Agradecemos seu contato.

Rodrigo Augusto
Atendimento ao cliente

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

crime ambiental

[nao eh possivel que facam isso com uma arvore apenas pra passar fios eletricos. Essa imagem ve-se por toda a cidade]
Talvez seja um exagero falar de crime ambiental. Talvez eu seja muito radical. Talvez. Mas que as podas urbanas em Campinas são muito agressivas, isso não há como negar, basta ver as imagens. Tudo bem, o crime começa com o plantio de árvores inadequadas para o ambiente urbano, com porte incompatível com as dimensões da ruas. Seria necessário saber quem plantou tantos ipês e alecrins pelas ruas da cidade.

Contudo, acho que essa prática pode ter uma outra perspectiva. As podas são feitas para garantir a integridade da rede elétrica da cidade e estão a cargo, até onde sei, da concessionária de energia elétrica, a CPFL. A CPFL é uma grande empresa e seus balanços demonstram um desempenho econômico-financeiro excepcional. O lucro da empresa é de alguns milhões de reais por ano. A empresa é mais conhecida pelos programas culturais que financia a que chama de CPFL Cultura, notadamente o Café Filosófico, que trata de temas que agitam a cultura contemporânea. Foi eleita em 2008 a melhor empresa de distribuição de energia do país.
Várias iniciativas que o politicamente correto chama de responsáveis, fazem da empresa um modelo de gestão que persegue a sustentabilidade. Sustentabilidade é o conceito do momento, o modo de pensar e agir, o patamar a se atingir. Pois acho que a CPFL só transformará seu negócio em negócio sustentável quando assumir a responsabilidade pelo espaço físico em que atua, o espaço que utiliza para apoiar os meios pelos quais entrega seus serviços à população. Lembre-se, o serviço é uma concessão pública, a CPFL não faz favor nenhum a cidade. Em outras palavras, a CPFL deve ser responsável pelo espaço em que passam os postes e fios elétricos no ambiente urbano.

Não é mais possível que os fios e cabos elétricos nas cidades sejam aéreos. A rede elétrica, postes e fios, não só poluem visualmente, como constituem barreiras físicas. Os postes que os sustentam ocupam espaços de circulação preciosos. Além disso, a arborização sofre podas degradantes para que os fios possam passar.

É imprescindível que a CPFL promova a requalificação dos espaços urbanos na cidade. É urgente que a empresa encabece um projeto junto ao poder público municipal, além de buscar outros parceiros, para realizar a tarefa de transformar e modernizar a cidade. Não sei que projeto daria mais visibilidade, mais credibilidade na área cultural do que esse. Afinal, a cidade é o grande palco das manifestações culturais. Recursos e competência a empresa tem de sobra, já provou isso com suas iniciativas culturais. Que o Café Filosófico se estenda por toda a cidade, para todos.

[sera que isso tem um nome tecnico? Soh posso pensar em gato profissional]

mc dia feliz – só big mac

Se você quer ajudar crianças e adolescentes que tem câncer, o McDonald’s promove o McDia Feliz. Todo o dinheiro da venda de Big Mac é destinado a causa do câncer infantil.

Mas atenção: apenas o dinheiro da venda de Big Mac vai para a campanha. Não adianta pedir o número 1.

Dia 29 de agosto, sábado. Só Big Mac, Big Mac, Big Mac.

Se você quer ajudar, compre um Big Mac, o único que ajuda de fato as crianças com câncer.

desaparecido

Thiago Tomás Nitoli está desaparecido desde 8 de agosto.

Mais informações sobre o caso em http://equilibrio-eu.blogspot.com/ .

Toda e qualquer ajuda será bem vinda.

A familia agradece. Obrigado.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

lições americanas

Acabo de reler, há poucos dias atrás, 'Seis propostas para o próximo milênio' [Companhia da Letras, 1990], de Italo Calvino. Esse é, na verdade, o subtítulo do original, que tem como título o mesmo desse post. A tradução da Companhia das Letras não usou o título, apenas o subtítulo. Comecei a ler os livros de Calvino por influencia de um professor que foi, antes de tudo, um grande amigo. Nunca mais o vi depois que saí da faculdade. Soube a um tempo atrás que o Cininho [diminutivo de Alcino] andava lá pelas bandas de Brotas.

O primeiro livro de Calvino que li foi 'As cidades invisíveis'. Depois li as Seis propostas e então não parei mais. Os meus preferidos são ‘Os amores difíceis’ [que inclui ‘A nuvem de Smog’ e ‘A formiga Argentina’, finalmente lembrei onde tinha lido esse conto em português], ‘Marcovaldo’ e ‘Palomar’ [todos pela Cia das Letras]. Agora estou relendo ‘Palomar’ e os outros livros já estão na minha mesa de cabeceira.

As lições foram escritas para serem proferidas como palestras na Universidade de Harvard no ano letivo 1985-86. Seriam palestras sobre valores que Calvino considerava importantes para a literatura e que ele achava iriam marcar as letras do próximo milênio [esse milênio em que vivemos]. Segundo Esther, sua mulher, Calvino tinha idéias para mais duas lições além das seis e a oitava teria o título ‘Sobre o começo e o fim’. Calvino não chegou a escrevê-la, assim como não escreveu a sexta lição, Consistência. As outras 5 lições são: Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade e Multiplicidade. Se havia a idéia para 8 lições, qual seria a sétima?

Das 5, a que mais me toca é exatidão. O motivo é justamente, segundo explica Calvino, o oposto de exatidão que ajuda a definir o conceito: vago, indefinido. Outro motivo, talvez, que me faça gostar mais da lição sobre exatidão seja o fato de que Calvino fale algumas coisas com as quais me identifico muito. Transcrevo uma passagem:

‘Creio que meu primeiro impulso decorra de uma hipersensibilidade ou alergia pessoal: a linguagem me parece sempre usada de modo aproximativo, casual, descuidado e isso me causa intolerável repúdio. Que não vejam nessa reação minha um sinal de intolerância para com o próximo: sinto um repúdio ainda maior quando me ouço a mim mesmo. Por isso procuro falar o mínimo possível e se prefiro escrever é que, escrevendo, posso emendar cada frase tantas vezes quanto ache necessário para chegar, não digo a me sentir satisfeito com minhas palavras, mas pelo menos para eliminar as razões de insatisfação de que me posso dar conta. A literatura – quero dizer, aquela que responde a essas exigências – é a Terra Prometida em que a linguagem se torna aquilo que na verdade deveria ser.’ [p.72]

Eu também acho que a linguagem é bastante maltratada e, por isso, não gosto de falar muito, prefiro economizar porque sei que maltrato a língua, por preguiça, vício, desleixo. Assim, também prefiro escrever. Sei que no papel posso ir e vir, ler e rever, num esforço contínuo pela busca da forma mais adequada ou mais bem-tratada. E olha que fui professor e vivi de falar o que pensava por muitos anos. E não era um mau professor. Quando escrevo, sou mais claro, mesmo sendo vago. Mas não chego aos pés de Calvino, seria muita pretensão. Em Calvino, a linguagem é aquilo que deveria ser.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

compaixão

[Kenny MacAskill]

Numa dessas raras coincidências, assisti ao vivo, hoje pela manhã, na BBC, o discurso do secretário de justiça da Escócia, Kenny MacAskill, que tratava de libertar um terrorista, com doença terminal, para morrer em seu país, com sua família, em sua casa. Trata-se de Abdelbaset Ali Mohamed al-Megrahi, líbio, julgado e considerado culpado, preso desde 2001, pelo atentado a bomba ao vôo 103 da Pan Am em 1988 que tirou a vida de 270 pessoas. Megrahi, que tem câncer terminal na próstata, foi libertado por compaixão.

Segundo o governo Escocês, a decisão foi bastante ponderada antes de ser tomada e anunciada. Decisão bastante singular que, sem dúvida, causará muita polêmica. O discurso do secretário, Kenny MacAskill, teve um tom grave sendo, porém, uma lição de humanismo. Transcrevo aqui alguns trechos, traduzidos por mim:

‘O Sr. al-Megrahi não demonstrou nenhuma piedade nem compaixão por suas vítimas. Elas não puderam retornar ao sei de suas famílias para zelar por suas vidas, para viver seus últimos dias em paz. Nenhuma compaixão foi demonstrada por ele para com elas.
[…]
Mas isso apenas não é razão para que nós neguemos compaixão a ele e sua família em seus últimos dias.
[…] Nosso sistema de justiça requer que se imponha o julgamento mas que se possa recorrer à compaixão.
[…]
Por essas razões e apenas por essas razões é minha decisão que o Sr. Abdelbaset Ali Mohamed al-Megrahi, condenado em 2001 pelo atentado em Lockerbie, agora doente terminal de câncer prostático, seja libertado por compaixão e possa retornar a Líbia para morrer.
[…]
Compaixão e perdão são suportes das crenças pelas quais procuramos viver, permanecendo como verdade para nossos valores como povo, independente da severidade da provocação ou da atrocidade perpetrada.’

terça-feira, 18 de agosto de 2009

a girl and a gun



É o titulo do filme do brasileiro J.P. Miranda Maria, vencedor na competição promovida pela CNN: Mobile phone movie competition, dentro do programa Screening room. A idéia é ótima. Como fazer um filme curto com os parcos recursos de um telefone celular. Essa proposta da obra estética feita com o que se tem na mão sempre me agradou muito.

veja trechos dos outros filmes vencedores:


Para saber mais sobre a competição, siga o link
http://edition.cnn.com/video/#/video/international/2009/08/05/tsr.xtra.mobile.comp.bk.a.cnn

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

marina silva

Ela vem despontando como possível candidata a presidência da república nas próximas eleições em 2010. Não se lançou oficialmente como tal, nega que seja candidata, mas está ensaiando uma saída do PT rumo ao PV, que possibilitaria sua candidatura.

Marina Silva é senadora, foi ministra do meio ambiente do governo Lula. Brigou com setores da economia que defendem o desenvolvimento a qualquer custo sem levar em conta a responsabilidade sócio-ambiental. Discordou do presidente e deixou a pasta. Sua história começou com Chico Mendes no Acre.

Ouvi-la é um alento. Uma voz serena, segura, informada. Firme quando tem que ser, sem histrionice. Lúcida, demonstra clareza sobre a situação do país. Suas idéias partem das questões ambientais englobando todos os grandes temas importantes da atualidade.

Sua candidatura seria um fio de esperança em ter em quem votar. Seria uma voz dissonante no discurso desenvolvimentista [ou crescimentista, daqueles que defendem o crescimento acima de tudo] predominante em nosso cenário político. Marina defende a sustentabilidade como pilar de uma economia de baixo carbono. Tem uma visão clara e coerente do Brasil. Acho que seria a única que poderia fazer frente à candidata de Lula, Dilma Roussef. Na verdade, sua história pessoal rivaliza com a de Lula. Faz Lula comer poeira.

Contudo, acho difícil que seja eleita. Lembro-me de Cristovam Buarque [eu votei nele] nas últimas eleições, que tinha como plataforma a educação. Mariana teria que convencer que a questão sócio-ambiental é mais abrangente. Ainda por cima teria que vencer os preconceitos: de cor, de classe, de gênero, religioso o regional.

Num quadro otimista, se eleita ficaria muito preocupado. Sem duvida ela formaria uma equipe bastante competente e afinada com suas idéias, há quadro no país para isso. Preocupa, entretanto, o papel do executivo e do legislativo no seu governo. Bem, isso preocuparia em qualquer governo lúcido e honesto, não?

Não nutro ilusões quanto ao Brasil. Não acho que haja vontade suficiente no país para solucionar seus problemas. Mas isso não quer dizer que eu não considere importante que o Brasil tenha à sua frente pessoas íntegras, capacitadas, sonhadoras, pessoas que acreditem em ideais. Mesmo sem ser candidata ainda, Marina Silva já tem o meu apoio.

Uma de suas frases preferidas, dita por ela: ‘Somos todos anjos de uma só asa, só voamos quando estamos abraçados’. [Léo Buscaglia]

Recomendo:
- áudio de recente entrevista na Radio Eldorado
- entrevista na RedeTV, em 3 blocos, mais de 45 minutos [procure na barra lateral direita do site a entrevista da senadora]

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

chuveiro elétrico

Nunca entendi direito o porquê da existência do chuveiro elétrico.

Quando era pequeno, tinha medo dos choques. E os chuveiros elétricos mais antigos davam choque a torto e a direita. Era comum entrar em chuveiros que tinham as torneiras protegidas por fita isolante. Preta. Assustadora. E coragem pra ligar o bicho?

Depois fui crescendo e me acostumando com os choques ao mesmo tempo em que a qualidade dos chuveiros melhorava. Então começou a me intrigar o fato de que para ter água quente era preciso diminuir o fluxo. Quanto menos água, mais quente, quanto mais água, mais fria. E quem é que quer tomar banho com pouca água? E no inverno? Não dá!

Ainda há o problema de queimar a resistência no meio do banho. Caramba, isso é demais! No meio do banho, você tentando regular a água, quente o suficiente para não congelar seu corpo molhado no frio do inverno, tentando chegar no limite sem desligar o dito cujo e a tal da resistência queima. Pronto! Quer coisa melhor?

Acima de tudo, me incomoda no chuveiro elétrico o fato de a água esquentar em contato com resistências elétricas. Água e eletricidade juntas, um pouco perigoso, um pouco assustador. Como sou leigo no assunto, não sabia, até ontem, que as resistências são blindadas e parará. Mas e o choque? Pois é...

Então, resolvi saber onde essa coisa tinha sido inventada, quem o inventou, porque? E sabe o que descobri? Que o chuveiro elétrico é uma invenção brasileira. Isso mesmo, legítima invenção do Brasil. E sabe qual a justificativa pra invenção? Era muito caro ter rede de gás para aquecer chuveiros nas casas. Pois é, mas isso nunca foi um problema que atrapalhasse a difusão do fogão a gás pelo país afora. Se fosse de fato o problema, teríamos todos fogões elétricos em casa, há anos. Acho que o Brasil é o único país no mundo que usa essa maravilhosa tecnologia em escala.

Sei que água quente no banho é uma evolução, um luxo. Mas pensa bem, o chuveiro elétrico é precário quando se compara o aquecimento da água através do gás e mesmo através de fogo a lenha. Tudo bem, os chuveiros elétricos evoluíram, ganharam pressurizadores, duchas com design, ficaram charmosos. Mas ainda assim, acho o chuveiro elétrico uma droga. Não tenho, não gosto de usar, nutro quase um ódio mortal por esse objeto abjeto. Sempre achei uma porcaria, uma idéia de jerico.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

grunhido



José Saramago tem um blog, O Caderno de Saramago, linkado aí ao lado. Ele escreve sobre seus interesses, política, literatura, artes, sobre os amigos, enfim, faz um blog. Lançou agora um livro com uma seleção de textos extraídos do blog. Em entrevista sobre o lançamento, disse o que acha do Twitter:

‘Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido’.

Confesso que também não fiquei tentado a aderir ao Twitter. Não que eu não goste de concisão. Mas o que eu teria a dizer lá que não diria aqui. Diria ‘fiz um novo post no blog’ ou ‘estou de saída’ ou ainda ‘Saramago não gosta do Twitter, nós grunhimos’. Não creio que gostaria de fazer isso. Já toma tempo abrir o blogger, escrever os textos, visitar outros blogs, editar fotos, textos, ler comentários, escrever comentários, procurar informações e checar fontes... E mais: agora que resolvi escrever me aparece essa de economia de palavras.

Aparte sua opinião sobre o Twitter, Saramago é um dos grandes intelectuais vivos pensando em língua portuguesa. Seus livros são perturbadores, suas idéias simples e diretas. Encontrei esses vídeos de uma entrevista sua para a Globo. Por Saramago, me rendo à Globo que tem seus lampejos de lucidez. Mas não precisava legendar a entrevista.

Termino com uma frase de Saramago: ‘no fundo, no fundo, tudo é pouco, tudo é insignificante’.


http://www.youtube.com/watch?v=4XDmsXWlDqE


http://www.youtube.com/watch?v=KukaoWu00Uw

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

falta de assunto

Não. Não é por falta de assunto que esse blog anda mudo, calado. Pelo contrário, assuntos há e muitos, alguns muito bons. O que anda faltando é vontade de falar dos assuntos que hoje me pegam, mexem comigo. Dá uma preguiça de falar das coisas para as quais não vejo solução...e também tem o outro blog, com o qual tenho um compromisso há mais tempo. Lá me obrigo a escrever uma vez por dia, então aqui fico às vezes sem vontade.

Estou selecionando algumas coisas que podem render algo para os próximos dias. Amanhã talvez, não prometo, quem sabe?

domingo, 2 de agosto de 2009

atos secretos resultam em censura

[Desembargador Dácio Vieira; sua mulher Angela; a mulher de Agaciel, Sanzia; José Sarney; Agaciel Maia; e o senador Renan Calheiros no casamento da filha de Agaciel]

Os atos secretos do Senado constituem ilícito de gravidade sem par. Melhor dizendo, deveriam ser considerados assim, como algo sem precedentes. Mas essa não é a realidade. Já estamos acostumados com crimes dessa monta contra a nação. Isso também não deveria ser assim.

O caso todo expõe as vísceras do Senado. O poder podre [nunca tinha notado a coincidência de letras das duas palavras, sempre tão próximas na política brasileira]. Expõe as vergonhas com as quais temos que conviver. Revela o caráter dos políticos, especialmente de José Sarney. Não canso de me perguntar, apesar de saber a resposta: será que ele não tem vergonha de fazer o que faz? Não, não sente vergonha. Por que em sua percepção das coisas, não faz nada de errado.

O jornal Estado de São Paulo divulgou os diálogos ao telefone entre Sarney e seu filho, Fernando Sarney e desse com a filha. A censura ao jornal é inaceitável, deplorável, um retrocesso, um pequeno deslize ditatorial. Dá arrepios! A liminar proíbe o Estadão de noticiar investigação sobre Fernando Sarney, filho de Sarney e também impede que meios de comunicação de todo o país utilize o material. O desembargador que impetrou a ordem é amigo de Sarney, deve favores veja foto acima]. Normal quando se trata da família Sarney. Não conseguiram censurar a internet, então os diálogos podem ainda ser ouvidos no You Tube [ouça abaixo ou direto no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=SKclv9AU_2w].

Sobre o estado das coisas no Senado não há o que se possa fazer. É coisa histórica, virou endemia, virou traço de personalidade nacional, não tem remédio. Agora, que a família Sarney se sinta aviltada em sua honra com a divulgação dos telefonemas que revelam atos de nepotismo relacionados a atos secretos e consiga ordem judicial censurando órgãos de imprensa, isso é demais. É a imprensa que desonra a família Sarney e não eles mesmos quando fazem o que fazem.

Ficou por conta do senador Pedro Simon a frase que melhor traduz a gravidade do caso, a falência do Senado e o cuidado que Sarney tem em preservar sua biografia: ‘O homem da transição democrática agora comete um ato da ditadura. Ele perdeu seu ultimo argumento. Isso é terrível. O presidente Sarney tem que renunciar’.

leia a notícia sobre a censura:
http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac411764,0.htm

veja página do estadao.com.br com os áudios dos diálogos censurados:
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,ouca-os-dialogos-que-ligam-sarney-a-atos-secretos-e-a-agaciel,406311,0.htm

ouça entrevistas com filósofos como Renato Janine Ribeiro e Roberto Romano, sociólogos e senadores sobre o caso dos atos secretos. Muito bom:
http://www.estadao.com.br/especiais/os-atos-secretos-de-um-senado-em-crise,62297.htm

veja lista dos mais de 600 atos secretos:http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,veja-os-663-atos-secretos-apontados-por-comissao-do-senado,391983,0.htm